Prof. Dr. S. F. Oliveira (2014) Tédio & Vida. http://tediovida.weebly.com/vida.html ©
Prefácio
Ainda existe bastante preconceito quanto aos temas: suicídio, BDSM depressão, ansiedade e doenças mentais de uma forma geral.
Incomoda. Parece algo distante ou que acontece só com o outro.
A verdade é que ninguém está imune a coisa alguma.
É melhor assumir os desejos e ver a realidade como ela é do que ficar na fantasia e na alienação.
Os textos desta coletânea tratam deste cenário. Foram publicados na Internet entre 2011 e 2014.
SUICÍDIOS E COBRANÇAS DA SOCIEDADE © March 10, 2014 by profelipe
Os músicos de heavy metal, antes, eram os acusados pelos suicídios dos adolescentes, como foi o caso da música “Suicide Solution” do Ozzy Osbourne. O vocalista chegou a ser processado por causa do suicídio de dois jovens nos Estados Unidos, mas foi considerado inocente.*
A internet, atualmente, aparece como a vilã neste processo. O Tumblr é acusado de abrir espaço para as pessoas que elogiam o suicídio e a automutilação.
Entretanto, o problema é mais complexo. Antes de acusar músicos e websites, os pais deveriam fazer uma autocrítica e verificar o que levou os filhos a optar por determinados estilos de música ou mesmo escolher navegar em determinados websites.
Esta polêmica foi retomada em janeiro de 2014, na Inglaterra, com o suicídio da adolescente Talluah Wilson, de 15 anos.
Para a mãe, a filha tinha uma vida dupla: uma “real”, como “dançarina com um futuro promissor no Royal Ballet School;”** e a outra personalidade seria “virtual”, criada pela garota no Tumblr, onde ela elogiava o excesso de álcool e cocaína e postava fotos de automutilação.
A mãe dá a entender que a culpa do suicídio seria deste tipo de espaço na internet que induziria os jovens ao suicídio.
No entanto, neste caso específico, a adolescente “havia sido diagnosticada com depressão clínica”, uma doença que pode levar ao suicídio. No Twitter, as mensagens (de Talluah Wilson) foram claras:
. “Eu nunca serei linda e magra.”
. “Eu não tenho plano para o meu futuro.”
. “Por que eu deveria ficar [por aqui] se ninguém fica comigo? Para mim, já deu. #suicide #goodbye.”***
Além das doenças genéticas (como a depressão), deve ser considerada a cobrança que a sociedade faz em relação às garotas: devem ser sempre belas e magras, devem ser as melhores profissionalmente, devem ser bem casadas e ter filhos, entre outras exigências.
Em um contexto tão estressante, muitas adolescentes acabam desistindo de viver porque percebem que nunca serão boas o suficiente e nunca agradarão totalmente aos próprios pais e todos aqueles que aparecem como pessoas importantes para elas. É triste. É muito mais complexo do que buscar colocar a culpa numa música ou num website.
(*)http://www.songfacts.com/detail.php?id=1303
(**)http://www.dailymail.co.uk/news/article-2544080/She-clutches-toxic-digital-world-Mother-dancer-15-threw-train-creating-online-cocaine-fantasy-warns-parents-beware-children-internet.html
(***) Frases do Twitter no original:
. “I will never be beautiful and skinny.”
. “I have absolutely no plan for my future.”
. “Why the f*** should I stay if no one around me stays for me? I’m done.” #suicide #goodbye.’
EXPERIÊNCIAS BIZARRAS © November 8, 2013 by profelipe
O amor permanece. A emoção não pode ser controlada pelo ser humano. O necessário é saber cuidar da relação amorosa. A base é o respeito.
Não é inteligente comprometer algo tão valioso com mesquinharias negativas, como ciúme, inveja, ansiedade, rancor, entre outras. As brigas não podem ser algo comum como um roteiro de novela mexicana.
Sexo e amor juntos podem ser o paraíso. Isso, porém, não quer dizer quebrar certos limites de uma respeitabilidade necessária ao relacionamento em nome “avançar mais uma etapa na paixão para não cair no perigoso marasmo”.
Experiências sexuais bizarras não fortalecem (necessariamente) a vida de um casal. Se elas forem testadas, deve existir igualdade, ou seja, a mulher não pode ser a única protagonista. Se o homem não tem segurança sobre a própria sexualidade (ele, por exemplo, acredita que com a violência física ele provaria a sua masculinidade), ele não deve tentar novas experiências pois poderá revelar que a sua relação com o seu corpo seria a de um menino de 12 anos (que tem medo de ser gay). Isso, claro, seria bastante constrangedor e decepcionante aos olhos de sua parceira.
Em resumo, qualquer máscara desaparece no momento que alguém deseja provar algo para o outro.
GOSTA DE SOFRER? © June 2, 2012 by profelipe
Algumas pessoas não assumem conscientemente, mas elas gostam de sofrer. Procuram, racionalmente, explicar, por exemplo, o fracasso do namoro ou o insucesso na vida profissional. Pior: elas tentam explicar isso para os outros, como se elas tivessem que dar uma satisfação à sociedade. Ingênuas.
O primeiro erro está em colocar no outro a responsabilidade pela felicidade ou pelo sucesso. O outro cuida dos interesses dele e nem é o culpado quando os seus projetos fracassam.
O segundo erro é não assumir o que de fato deseja – independente da moda ou do que o “mercado” espera.
Existem pessoas que investem bastante na aparência física: músculos, anabolizantes, silicones, botox, entre outras estratégias. Esquecem que o corpo, depois de uma certa idade, caminha para o declínio, sendo “destroçado” aos poucos tanto interna como externamente.
Em outras palavras, uma bela garota de 20 anos não terá a mesma aparência com 30, 40, 50 ou 60 anos. O seu corpo, como de qualquer um, voltará para a natureza em forma de cinzas ou restos para alimentar outros seres.
Acreditar que a beleza física dos 20 anos seria eterna é garantir o sofrimento e a decepção.
Outro erro comum é acreditar que seria possível controlar o outro, como o namorado, o funcionário ou o filho. É uma ilusão. Dizer que alguém te decepcionou significa ouvir da pessoa que ela não era obrigada a atender a sua expectativa, que ela não seria um simples objeto de sua fantasia.
Gostar de sofrer é uma opção. Os médicos certamente tratam o caso com uma patologia, mas, sinceramente, o que sabem esses médicos que formam e nunca mais pegam num livro?
Quem escolhe sofrer deveria, no mínimo, tentar compreender o por que de tal escolha.
Quer se cortar? Gosta de práticas sadomasoquistas? Namoro algum nunca deu certo? Os seus familiares te odeiam?
Nada disso é exclusivo de um indivíduo. A questão é entender o processo, não culpar só outro e sobretudo saber porque a pessoa escolhe estar ali, naquela situação.
† MORTE, RELIGIÃO, POLÍTICA & SEXO /\\/ © November 6, 2011 by profelipe
Existe uma associação entre o autoflagelo religioso com cilício, as torturas sob regimes autoritários ou totalitários, as práticas sexuais do sadomasoquismo (SM) e o instinto de morte que cada indivíduo possui.
A morte representa o desejo íntimo, como diria Freud, do “descanso eterno”. O que mais se aproxima da sua realização são os riscos das práticas sadomasoquistas. Poucas pessoas admitem serem adeptas do SM. De fato, não é para qualquer um. É necessário um trauma de infância e a coragem para repeti-lo na vida adulta. Existe um custo financeiro, na medida em que o processo não é barato, seja para participar dos clubes, seja para comprar os acessórios e as roupas. O SM como escolha de prática sexual, controlada, é para poucos.
A violência doméstica, descontrolada, punida pela lei, talvez seja uma forma marginalizada de lidar com os maus tratos na infância. Mais uma vez, a informação (o nível de educação) e a situação financeira parecem diferenciar aqueles que, por exemplo, participam de clubes de SM daqueles que simplesmente chegam em casa, revoltados com os baixos salários e com a vida miserável, e espancam as mulheres e os filhos.
Outra questão seria a religião. A base de sua dominação está na culpa. A pessoa “nasce em pecado”. Existe um dívida que nunca será paga, pois o indivíduo continuará pecando. O cilício não representa só a reprodução da dor que Jesus sofreu ao ser crucificado. Ele é uma forma de autopunição, de tentar “limpar” os pecados.
A culpa também está na base do comportamento sadomasoquista, pois ela está relacionada aos abusos da infância. Normalmente, as crianças sofrem essa violência dos pais e isso gera um sentimento confuso porque, teoricamente, elas deveriam amá-los mas, ao mesmo tempo, eles são os responsáveis pelas seus piores dores físicas e psicológicas que elas sofrem.
A tortura como prática foi sistematizada, provavelmente, pela igreja na Idade Média. Vários métodos e aparatos, daquela época, são utilizados pelos sadomasoquistas. A tortura tornou-se algo comum nos modernos regimes totalitários e autoritários. O exemplo mais importante seria o nazismo, com o uso de técnicas horríveis nos campos de concentração. Mais uma vez, na fantasia dos rituais do SM, aparecem, algumas vezes, por parte do sádicos, cópias dos uniformes nazistas.
No mundo ocidental, existe uma visão negativa da morte. Ela aparece associada sobretudo aos processos da dor, da culpa e da perda. Ela não é vista como algo natural. Ela é mostrada, muitas vezes, como uma punição – como se ela fosse uma alternativa e não algo que necessariamente ocorre com toda pessoa.
Essa visão da morte está relacionada de forma importante com concepções aparentemente tão distintas como as práticas religiosas,políticas e sexuais. Poderia ser diferente, claro. Mas naquilo que é a condição humana, essa opção acabou sendo hegemônica.
MORTE 7 DE AGOSTO DE 2011 © October 30, 2011 by profelipe
Já estou no limite faz tempo. Não acho grande mérito ter sobrevivido a tantas crises. Quando for necessário, farei o que precisa ser feito. É uma tendência e não uma profecia. Sempre achei que a natureza deveria cuidar dessa parte. Mas isso nem sempre acontece.
A dor insuportável leva ao suicídio. Neste quadro, é razoável - existem tantos exemplos: Freud, Lacan, Deleuze…
Não concordo com o suicídio por causa da falta de poder ou da falta de dinheiro. Tirar a vida por causa de conceitos - que mudam o tempo todo -não faz sentido.
O suicídio é apenas uma estratégia para lidar com a vida. A morte é uma certeza. O suicídio é uma opção. Não dá para afirmar que uma pessoa fará ou não tal escolha. É algo pessoal e depende do contexto que o indivíduo estiver vivendo. Todos correm o risco de escolher esse caminho, mesmo aqueles que nunca acreditaram que seriam capazes de cometer tal ato.
SUICIDE GIRLS & GOTHIC GIRLS © October 24, 2011 by profelipe
Nas relações sociais, o novo é fundamental para mim. Talvez por isso me interesso tanto pelo estilo das Suidade Girls. Na minha opinião, elas representam mais do que um bando de ninfetas tatuadas que posam nuas. Basta seguir qualquer uma delas no Tumblr para perceber que existe algo mais. Elas rompem com o tal padrão de beleza e, até agora, evitam impor uma única forma de se apresentar. Pode ser magra, gorda, usar óculos, ser hetero ou homossexual ou os dois… Adoro os cabelos coloridos: rosa, azul, verde… Enfim, elas demonstram que algo acontece e o que aparece nos seus corpos seria apenas a ponta de um “iceberg” de uma transformação comportamental e mental muito maior.
Já disse que associar as Suicide Girls à necrofilia é uma bobagem. Existe uma relação com o instinto da morte, mas Freud já dizia que isso acontece com todo indivíduo. Elas se aproximam das “Gothic Girls”, que também me atraem muito, com suas roupas negras, maquiagem pesada, um estilo de música específico e a fascinação pela morte e por cemitérios.
Acredito que essas garotas representam algo novo na atualidade. Seria bom ou ruim? Quem se importa? É gostar ou viver a sua vida diária, com o seu terno e gravata, no escritório, tomando um chopp depois do expediente com os colegas e, em ocasiões especiais, comprando uma jóia na H-Stern (ou na Vivara) para a sua namoradinha pequeno-burguesa (que certamente reclamará do modelo escolhido).
Sim, existem mudanças. Existem escolhas. Existe uma vida que não espera.
SUICIDE GIRLS © September 25, 2011 by profelipe
É mais fácil criticar aquilo que você não entende. Assim como não aceitaram as modelos quando elas usavam um visual “junkie”, agora tentam associar as garotas do “suicide girls” à necrofilia. Aparentemente, garotas tatuadas, com cabelos coloridos ou “acima do peso” são rotuladas como extravagantes por aqueles que acreditam que existe uma única forma de definir a beleza feminina. Patético.
GÓTICO ? © September 24, 2011 by profelipe
Quem me conhece sabe que quando vejo filmes em casa ou pego um livro para folhear, sempre começo pelo fim. Me interessa mais saber como aquela história foi construída. Outros analisam a obsessão pelo”fim” associada à morte. Uso só camisetas pretas. Minhas toalhas são pretas. Acho mais prático assim. Alguns dizem que essa preferência tem a ver com a minha depressão.
Quando era criança, gostava de passear pelos corredores do cemitério que havia perto da minha casa. Sempre gostei de chuva. Desligo aparelhos de CDs ou DVDs para ouvir o barulho da chuva. Para as pessoas, um dia bonito é um dia de sol. Eu gosto de ver a chuva, estando em casa, no carro ou a pé. Quando leio biografias, gosto de saber, primeiro, como foi a morte do indivíduo. Gosto dos grupos do chamado “gothic rock” (o termo é polêmico).
O que significa isso? Alguns diriam que trata-se de um “suicida”. Contudo, tenho 50 anos e e nenhuma tentativa. Penso muito na morte – me divirto com isso – e tenho depressão – aqui já não é brincadeira.
O fato é que, pelo menos até agora, no máximo que se poderia dizer a meu respeito é que eu teria tendências suicidas – o que acho uma teoria razoável. Outros poderiam achar que seria apenas outro “gótico” – ou “dark”, como era conhecido o tipo, aqui no Brasil, na década de 1980. Neste último caso, não daria para ser considerado efetivamente, na medida em que esse “rótulo” é pouco para dar conta da complexidade de um ser humano.
INCESTO © September 23, 2011 by profelipe
Na sociedade moderna, ainda se evita tratar de certos temas, o que reforça alguns mitos. Um deles é o incesto, cuja proibição aparece como algo “natural”.
“Com o tabu do incesto, a família marca a passagem da Natureza à Cultura. (…) Lévi-Strauss demole definitivamente as fantasias sobre a família enquanto fato substancialmente natural: a família biológica é uma abstração indeterminada, que não tem nenhuma relação com a realidade histórica.”(Massimo Canevacci, Dialética da Família, p. 177)
Nesta perspectiva, a proibição do incesto evitaria o isolamento da família e garantiria a troca das mulheres dentro de uma comunidade. Trata-se, portanto, de um fenômeno cultural que visa garantir a existência da sociedade.
A construção da civilização tem a ver com a invenção de conceitos que possibilitem a comunicação entre os indivíduos e ajude na integração e expansão de sua comunidade. Associar esses conceitos à natureza ou ao sobrenatural não passa de um estratégia ideológica que tem como objetivo garantir os interesses de uns contra os outros.
Em suma, a construção dos conceitos varia de acordo com a sociedade e seu contexto histórico. O problema é que as pessoas tendem a acreditar que esses conceitos são absolutos e, pior, acham que eles devem dirigir as suas vidas. Ocorre uma inversão. Os indivíduos, que originalmente deveriam ser os sujeitos, tornam-se objetos dos conceitos – muitos associados às religiões e às superstições.
No caso da proibição do incesto, mesmo levando em consideração quer seria uma necessidade social, o indivíduo tende a enxergar isso como uma lei natural e que nunca poderia ser violada. Estela Welldon cita um caso:
“Embora muito experiente, o médico ficara intrigado durante 15 anos porque não entendia a causa das frequentes e graves queixas psicossomáticas da moça que a levaram a exigir as mais diversas cirurgias. Felizmente o médico não cedeu a exigências, que enfim a levaram a revelar , depois de negar por uma década e meia, que tivera experiências incestuosas. Ela realmente reprimira a lembrança da violência sexual, mas o corpo jamais esquecera: tornou-se um lembrete permanente do estupro, que resultou em tratamento intenso e em punição severa toda vez que ela revivia o antigo trauma.” (Sadomasoquismo, p. 37)
Em outras palavras, o que a pessoa esforça para esquecer, o seu corpo insiste em lembrar, ele é a prova de que algo errado aconteceu, de que o trauma não foi superado. Em muitos casos, a pessoa volta a sua raiva contra o próprio corpo. Ela assume umas postura masoquista, impõe a si mesma um sofrimento e uma violência, que, em casos extremos, por terminar com a sua morte.
Em resumo, não é por acaso que os indivíduos temem tanto o debate do incesto. Ele está associado a estrutura familiar e aos desejos, nem sempre claro, de seus membros. Entretanto, a falta de esclarecimento só piora a situação, podendo levar a casos de estupro e de pedofilia.
SUICÍDIO © September 16, 2011 by profelipe
Os psiquiatras e psicoterapeutas, por motivos óbvios, não gostam de admitir diante de seus pacientes uma dado óbvio: “a depressão é a principal causa de suicídios.”
Nesta problemática, existem aqueles que “tentam o suicídio” como forma de chamar a atenção e os que, de fato, morrem.
No primeiro caso, o mínimo que se pode dizer é que existem formas mais interessantes de chamar a atenção, mesmo consideração, como diria Freud, o componente autodestrutivo encontrado em todos os indivíduos. O segundo caso é diferente. O suicídio “de fato” é visto, algumas vezes, como um ato de honra, como os ”kamikazes” japoneses na Segunda Guerra Mundial ou, mais recentemente, os ataques terroristas de grupos radicais islâmicos, como ocorreu com o World Trade Center em 2001.
A depressão clínica pode ser um elemento relevante neste processo, pois a doença “puxa” o indivíduo para a morte. Viver, assim, seria quase como ir contra a natureza da própria doença. Trata-se de uma doença genética. Pode ser tratada com modernos remédios – Prozac, Zoloft, entre outros – e com a ajuda de profissionais adequados, como os psiquiatras e os psicólogos.
Após as pesquisas de Michel Foucault, com seus livros “História da Loucura” e “Nascimento da Clínica”, e o avanço científico da indústria farmacêutica, a associação entre o suicídio e a depressão pôde ser amenizada. Contudo, não foi resolvida, na medida em que ela está relacionada à condição humana.
A MORTE IRRITA AS PESSOAS © September 16, 2011 by profelipe
Em uma crônica, João Ubaldo Ribeiro pensava sobre quanto anos ainda restariam para ele viver. Eu colocaria o problema de outra forma: o que você fez com o seu tempo antes de morrer? Se você teve um ataque do coração, provavelmente estava estressado, trabalhando muito ou preocupado demais com as coisas do cotidiano. E a sua vida? O seu prazer?
Tenho a sensação de que nascemos e ao longo da vida, as várias experiências que experimentamos seriam uma espécie de aprendizado para saber o que seria importante ou não, para quando chegarmos mais adiante, podermos usufruir o que nos é oferecido de melhor neste mundo. Depois, vem a morte, claro. No entanto, ela não apareceria como algo assustador e nem você ficaria tão apegado a esse mundo que morrer seria um mal negócio (apesar de você saber que não existe outra saída para tal momento).
A morte irrita as pessoas. É interessante. Não apenas o que seria uma recusa da “sua” morte, mas também no que se refere à morte do outro. Somos egoístas: como ele foi capaz de morrer e nos deixar? O que vale é sempre a “nossa” perspectiva. Quem sabe não seria a morte não seria o melhor para aquela pessoa. Não falo de suicídio, falo de morte natural. Acontece. Ficamos tristes, claro. Contudo, seria possível pensar na perspectiva do outro, por um só momento?
Muitas pessoas têm medo de morrer. Bobagem. Com medo ou sem, vão morrer do mesmo jeito. A morte aparece como algo no “futuro”, o indivíduo sente medo no “presente” em virtude do que ele fez no “passado”. A consciência pesada não resolve os erros do passado. A falta de consciência dos próprios atos não significa inocência. A alienação é uma opção.
Alguém disse que você deveria viver o seu momento como se ele fosse o último da sua vida. Está certo. O problema não é a morte. Ela é uma certeza. Não existe debate sobre isso. A questão é a vida. Sim, o que você faz dela, como, para usar outra expressão, você “habita” o seu tempo? Ser feliz. Ser solidário. Não são respostas, mas, para refletir, são duas temáticas interessantes.
DEPRESSÃO © September 16, 2011 by profelipe
A psicóloga da minha irmã afirmou que, quando tenho crise de depressão, uso a tela do computador como uma janela para o mundo, pois fico isolado e evito o contato com as pessoas. Não deveria admitir, mas trata-se de uma frase interessante. Aos que questionam sobre “a psicóloga da minha irmã”, esclareço que, claro, eu mesmo fiz psicoterapia por anos – exatamente entre 1995 e 2009. Atualmente, tomo somente antidepressivo. Estou com esta médica desde 2000. O médico da minha adolescência suicidou em 2007.
Estes são apenas fatos. Não me importo com a depressão. Ela é cíclica, genética, e sei que, qualquer hora, ela pode aparecer. Não acredito em cura. E como disse, nem me importo com isso. É simplesmente algo que tenho que conviver e, que eu me lembre, tenho crises desde os 7 anos de idade. Não suicidei e nem tem intenção de toma tal atitude. Não recrimino quem fez ou faz isso.
Contudo, não concordo com as chamadas “tentativas de suicídio para chamar a atenção”. Acredito que por mais grave que seja o problema, se o indivíduo quer chamar a atenção para si, devem existir outros meios, afinal, este tipo de “tentativa” pode acabar mal, pois a pessoa não morre e quando volta a si, os seus problemas aumentaram. Não critico ninguém porque cada um sabe “a dor de ser quem é”. Esta é somente a minha opinião e não uma certeza ou uma lei que poderia servir para todos.
Quem me conhece, sabe que eu adoro a vida. Quando falo que tenho depressão, muitos acham difícil de acreditar. Para alguns, sou um “bon vivant”. Não nego nem uma coisa – o amor pela vida – e nem a outra – a depressão é a principal causa de suicídio no mundo e é uma doença que eu tenho. Eu sei que as pessoas evitam estes temas: depressão, suicídio e morte. Não faço disto um drama, mas, por motivos óbvios, adoro ler e conversar sobre a morte. Gosto de obras associadas ao tema, como o filme o “Sétimo Selo” de Ingmar Bergman. Na música, gosto de “In My Time of Dying” do Led Zeppelin e “Death is Not the End” do Nick Cave. Nas artes plásticas, me impressionou muito o quadro “Guernica” de Pablo Picasso.
Em suma, a ideia da morte me fascina. Não falo do que acontece depois da morte, mas da ideia de que todos, um dia, deixaram de existir nesta vida. As várias teorias religiosas sobre o pós-morte não me interessam. São apenas teorias associadas ao conhecimento teológico, cujo critério mais importante é a fé. Acredito que isso diz tudo. Cada pessoa tem o direito de ter fé no que quiser e pronto. No meu caso, procuro me concentrar mais no que acontece durante a vida. O fato da morte ser uma certeza somente confirma a minha opção.
RADICALISMO © September 15, 2011 by profelipe
Sou contra radicalismo. Passei da fase. Talvez por isso veja algo similar entre o autoflagelo religioso com cilício [por exemplo] com as técnicas utilizadas nas relações sadomasoquistas. Além da dor, o que existe em comum em tais práticas é uma coisa chamada ‘culpa’.
VIDA, MORTE & ESCOLHAS © September 15, 2011 by profelipe
Em relação ao suicídio, Freud afirmou (em “Luto e Melancolia”):
“(…) jamais fomos capazes de explicar que forças interagem para levar a cabo esse propósito.”
O suicídio aparecia como um enigma, como algo sem explicação, quase como algo que o indivíduo não deveria fazer. Na prática, porém, a história foi outra. O próprio Freud optou por um “suicídio assistido”, assim como foi o caso de Lacan:
“Tal como Max Schur à cabeceira de Freud, o médico tomou a decisão de administrar a dose de morfina necessária a uma morte suave. No último instante, Lacan fuzilou-o com o olhar.” (Elisabeth Roudinesco, Jacques Lacan, p. 406)
No caso de Freud, o pedido pela dose de morfina partiu do próprio criador da psicanálise, que lembrou ao seu médico a promessa de que ele o ajudaria quando fosse chegado o momento.
Em suma, o suicídio não é algo que se explica. É um ato e como tal pode ser feito por qualquer pessoa. Na medida em que o indivíduoexiste só no presente, não faz sentido afirmar que um dia ele suicidará ou não.
Assim, não é possível julgar quem fez essa escolha, na medida em que, um dia, quem julgou pode percorrer exatamente o mesmo caminho.
DOMINANTES © September 15, 2011 by profelipe
Com os animais, acreditamos que a realização do instinto é óbvia e natural. Na civilização, as relações tornaram-se complexas. Com a ética, a realização do desejo ficou mais complicada. Como resultado, veio a frustração e os outros sentimentos negativos que definiram as relações de uns com os outros, como o ódio, a inveja e o rancor.
O fundamental, no mundo civilizado, não era saber se o objeto de prazer seria do sexo feminino ou do sexo masculino e sim admitir que existia um objeto, de um lado, e um sujeito do outro. Essa relação em si continha um processo de dominação. No mundo ocidental, de acordo com Michel Foucault:
“parece claro que foi a propósito do rapaz que a problematização foi mais ativa na Grécia Clássica, empreendendo em torno de sua beleza frágil, de sua honra corporal, de sua sabedoria e da aprendizagem que ela requer, uma intenção preocupação moral.” (O Uso dos Prazeres, p. 189)
Isso mudaria depois, quando a relação entre o homem e o rapaz seria substituída pela relação entre o homem e a mulher:
“(…) a moça ou mulher casada, com sua conduta, sua virtude, sua beleza e sentimentos se tornarão temas de cuidado privilegiado; uma nova arte de cortejá-las, uma literatura de forma essencialmente romanesca, uma moral exigente e atenciosa à integridade do corpo e à solidez de seu engajamento matrimonial, tudo isso atrairá para elas as curiosidades e os desejos.” (p. 189)
Independente da forma de relação, o fato é que existe um jogo de sedução entre um sujeito e o seu objeto. As regras não são rígidas e nem as posições aparecem como absolutas, mas a partir do seu lugar – homem, rapaz ou mulher – existe a possibilidade de acesso a vários mecanismos – poder, dinheiro, beleza, entre outros – que permitirão a relação com o outro. A realização do desejo, portanto, dependerá de um jogo complexo, que, muitas vezes, não ficará claro quem será o dominante ou o dominado.
MECANISMOS DE DEFESA © September 15, 2011 by profelipe
Jung e John D. Biroc se distanciam de Freud quando apresentam argumentos contra o princípio da causalidade para a terapia. A mente humana seria muito complexa e as relações sociais num mundo civilizado só complicariam ainda mais esse processo.
Apesar de considerar razoáveis as críticas de Jung e Biroc, não acredito que elas sejam suficientes para descartar a causalidade na análise do desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
Mas… e daí?
As pessoas gostam de afirmar que o indivíduo só presta atenção em algo quando ele é atingido no bolso. Penso diferente. O interesse desse indivíduo só é despertado quando algo afeta o seu corpo.
Como isso acontece?
Tentar enganar a si mesmo é transferir um problema da mente para o corpo. Por exemplo, a falta de apetite de uma pessoa pode estar associada a ansiedade de um evento importante que ela planejou.
Freud afirma que os indivíduos utilizam alguns mecanismos de defesa para tentar fugir da verdade:
. “a repressão (banimento da consciência),
. a projeção (atribuição a outra pessoa de um aspecto indesejável de si),
. a racionalização (intervenção de explicações falsas para as próprias motivações),
. a clivagem (adoção de atitudes ou sentimentos contraditórios em compartimentos separados de percepção),
. defesas maníacas (modos de negar sentimentos de depressão) e muitas outras variações sutis desses temas.” (Phil Mollon, O Inconsciente, p. 16-17)
Acredito que a maioria use sobretudo os dois primeiros mecanismos: a repressão e a projeção. É comum a pessoa querer banir da consciência algo desagradável, ou seja, ela quer esquecer algo ruim. Para isso, ela pode, por exemplo, beber em excesso numa festa.
Transferir um defeito seu para o outro também não é raro. A pessoa consegue ver o erro no outro mas não consegue percebê-lo nela própria. É mais fácil observar a vida do vizinho do que olhar para dentro de sua casa.
Essas fugas funcionam durante algum tempo. Como no exemplo da bebida, uma hora o efeito passa e é necessário encarar a realidade. Ou não. A pessoa pode beber mais e assim por diante. Mas chegará uma hora que aquela fuga terá um fim. Ela precisaria de uma espécie de gatilho para “acordar para a vida”. Em outras palavras, precisaria que ocorresse algo realmente trágico para poder avaliar que estava se enganando durante todo o tempo e que, afinal, o problemanão estava no outro mas sim nela mesma.
DOR, PRAZER, GÓTICOS E S&M © September 15, 2011 by profelipe
Sempre gostei de “goth rock”. Vi The 69 Eyes ao vivo e adoro a música “Gothic Girl” . Acho fantástica a “Lieber Gott” de Umbra et Imago (que conheci num cd que veio numa revista gótica alemã). Essa banda usa rituais de S&M em seus shows.
Comentei em outro texto que não gosto de cenas S&M, especialmente aquelas muito radicais. Entretanto, depois que conheci algumas garotas adeptas ao estilo, passei a ler e a escrever sobre o tema. Nunca entrei num clube S&M e não sei se ficaria a vontade num ambiente assim.
S&M é uma problemática complexa e está relacionada aos abusos sofridos na infância. Trata-se de uma forma de lidar com os traumas, de transformar o que era dor em prazer. É um perversão, claro. Mas não acredito que o caminho seria julgar o S&M como certo ou errado.
Freud, em uma entrevista em 1930, admitiu que tanto quanto ao sexo ele dava importância
“ao ‘além’ do prazer – a morte, a negação da vida. Esse desejo explica porque alguns homens gostam da dor – ela representa um passo em direção à morte! O desejo de morte explica por que todos os homens procuram o descanso eterno…” (A Arte da Entrevista, p. 96)
Não tem como negar que o elogio da dor no S&M é, no fundo, um desejo de morte.
Nem todos os góticos são adeptos do S&M. O que existe em comum entre eles são temas como morte, dor, sofrimento, depressão e suicídio.
Gosto de pensar nestas questões e visto só camisetas pretas. Isso, porém, não é o suficiente para que eu participe de grupos góticos ou S&M. Na verdade, tratar destas problemáticas representa apenas um pequena parte dos meus interesses relacionados ao cotidiano da sociedade atual.
FILMES E OLHARES © September 15, 2011 by profelipe
Em uma das cenas do filme “9 Semanas e Meia de Amor”, Elizabeth – personagem interpretada por Kim Basinger -, que trabalha numa galeria de arte, se excita ao ver “slides” de pinturas, o que a leva a masturbação, criando uma cena muito sensual no filme.
Em “Invasão de Privacidade”, existe uma cena em que a personagem vivida por Sharon Stone masturba-se no banheiro. O mesmo acontece com Sherilyn Fenn em “Two Moon Junction”. Todas as atrizes são bonitas e as cenas possuem um forte apelo sexual.
No caso dos homens, é raro aparecer alguma cena de masturbação. Quando isso acontece, como no filme “Beleza Americana”, é para mostrar a figura de um fracassado que não consegue seduzir nem a própria esposa. [ Em filmes de sexo explícito é diferente, pois a ejaculação representaria o que acontece de "real" na cena, por isso, após a relação sexual ou o sexo oral, é comum, ocorrer a masturbação antes da ejaculação. ]
Assim como as cenas de masturbação das mulheres, é comum vê-las nos filmes em cenas amorosas com outras mulheres – o que não acontece com os homens. O que explicaria essa diferença?
As mulheres são educadas para serem desejadas. Com a internet, tornou-se comum ver muitas fotos tiradas pelas próprias garotas em frente ao espelho, de biquíni e em posições sensuais. Parece existir uma necessidade de ser bela e sexy para, assim, atrair e dominar.
O filme é sobretudo um produto visual. Os olhares de homens e mulheres são diferentes. São perspectivas diferentes, com o mesmo objetivo: a conquista. Neste sentido, o jogo da sedução admite estratégias específicas de cada lado, raramente discutidas ou assumidas, mas que são essenciais para despertar a atenção e o interesse do outro.
CIVILIZAÇÃO E SUICÍDIO © September 15, 2011 by profelipe
Mais do que o tema da morte, as pessoas evitam discutir a problemática do suicídio. Entretanto, não existe nada mais civilizado do que avaliar as possibilidades do suicídio. Se o homem fosse apenas natural, jamais discutiria algo assim. Por ser social, complexo, ele precisa lidar com o suicídio – o que, obviamente, não significaria a sua morte. Trata-se de uma reflexão sobre a sua condição humana.
No texto “Luto e Melancolia”, Freud afirma:
“De há muito, é verdade, sabemos que nenhum neurótico abriga pensamentos de suicídio que não consistam em impulsos assassinos contra os outros, que ele volta contra si mesmo.”
A questão não é explicar como o suicídio seria possível. O interessante é perceber como um desejo natural (que existe em qualquer animal) – matar o outro – num ser dito civilizado transforma-se em suicídio. A incapacidade de fazer mal ao próximo – algo tão defendido cinicamente pelos civilizados – pode colocar o indivíduo num beco sem saída, quando a sua morte aparece como a única alternativa. Para não matar o outro – que pode ser o causador do seu sofrimento -, ele mata a si próprio.
No mundo ocidental, todos são educados de acordo com os princípios cristãos e com as leis da civilização. No entanto, são teorias que, na prática, não podem ser levadas à sério. Os poucos que acreditam totalmente nestes princípios podem enfrentar graves dilemas quando têm que enfrentar as repressões dos representantes de instituições como a família, aescola e a igreja.
Como alguém pode desconfiar que aquele que deveria fazer o bem – um padre, por exemplo – pode ser o causador de um trauma? Como uma vítima de pedofilia pode encontrar uma saída para o seu sofrimento se ele é causado por aqueles, dentro de sua casa, que deveriam protegê-lo?
O problema não é só denunciar e perder o amor e a confiança do pai ou do padre (como no exemplo). A gravidade da situação é que tais atos chocam com os princípios que são básicos na formação de qualquer pessoa. Como resolver isso, sobretudo se a vítima for uma criança?
Há um conflito no que diz respeito a teoria e a prática na formação do “ser”. Se a culpa não pode ser associada ao outro – pai ou padre -, ela volta para a vítima, que, no final das contas, “mereceria a punição” e com o suicídio seria percebida, pelos outros, como civilizada.
EXCLUIR PARA EXISTIR © September 15, 2011 by profelipe
Em 1982, Michel Foucault apresentou um seminário com o título “A Tecnologia Política dos Indivíduos” (Dits et Ecrits, p. 1652). Entre as várias problemáticas analisadas, uma questão me chamou a atenção: “o que somos nós hoje?” Ele afirma que esta pergunta incomodou “Kant, Fichte, Hegel, Nietzsche, Max Weber, Husserl, Heidegger, a Escola de Frankfurt”… (p. 1653)
Antes de iniciar a sua análise propriamente dita, ele faz, com base em suas pesquisas, uma afirmação importante:
“Précisons briévement que, à travers l’etude de la foilie et de la psyquiatrie, di crime et du châtiment, j’ai tenté de montrer comment nous nous sommes indirectement constitués par l’exclusion de certains outres : criminels, fous, etc.“ (p. 1653)
No que diz respeito à pergunta – “o que somos nós hoje?” -, o “hoje” demonstra que a definição do homem depende da sua época histórica. O que eu sou, o que é certo ou errado, depende da sociedade em que vivo. Isso muda de sociedade para sociedade e de época para época. As definições e os valores são inventados pelas pessoas de acordo com suas necessidades.
Aqui aparece a afirmação de Foucault – “somos indiretamente constituídos pela exclusão de alguns outros“. Por quê ? Para existir, eu preciso negar a existência do outro. Para dizer que sou normal, preciso identificar alguém como anormal. Para valorizar a minha liberdade, preciso que outros estejam presos.
Preciso me sentir especial, exclusivo e escolhido. Para me sentir assim, devem existir os excluídos. Nesta perspectiva, a valorização da minha felicidade dependeria da infelicidade dos outros. Assim, seria possível compreender por que certas pessoas nãosuportam a felicidade do outro.
Qualquer indivíduo já teve a sensação de que o seu prazer incomodaria outras pessoas próximas e elas imediatamente fariam comentários de censura quanto à sua felicidade ou inventariam obrigações que não estavam planejadas para aquele momento.
Em outras palavras, parece que o objetivo dessas pessoas é transformar o seu cotidiano num inferno! E o pior é que elas dizem que fazem isso – censura, repressão, etc – porque se preocupam com você! Tentam transformar sentimentos negativos – inveja, ciúme, rancor – em algo nobre – como o altruísmo.
O que complica ainda mais o processo é que as pessoas que agem assim não percebemconscientemente o mal que estão fazendo aos outros. Acreditam que amar significa fazer o outro sofrer! Acham, equivocadamente, que o ciúme e a inveja são essenciais numa relação amorosa. Fazem tudo para destruir aquilo que, dizem, mais amam.
Trata-se, no mínimo, de uma estranha forma de amor. De fato, existe um confusão: o que essas pessoas sentem é ódio, mas não conseguem admitir tal sentimento, então acreditam no impossível: a finalidade é o amor e os meios para realizá-lo seriam a repressão, a inveja, o ciúme e o sofrimento.
S & M: PERSPECTIVAS DIFERENTES © September 15, 2011 by profelipe
As pessoas que são abusadas (emocionalmente e/ou sexualmente) na infância, na vida adulta, podem optar pelo sadismo ou pelo masoquismo.
O sádico é um vingador, acredita que a violência – que comete contra os outros – aliviaria a dor do trauma do passado. Na medida em que isso não acontece, ele, dificilmente, desistirá dos ataques aos outros.
O masoquista lida com o trauma de uma maneira diferente. Com o ritual da repetição da experiência (sofrida) na infância, ele transforma dor em prazer. A repetição controlada do trauma, na vida adulta, seria uma forma de tornar o fracasso em vitória. É uma fantasia, mas, na prática, proporciona um prazer real ao masoquista.
Os dois casos (o sádico e o masoquista), porém, demonstram uma dificuldade de lidar com o passado. Representam tentativas (desesperadas) de continuar vivendo mesmo após a tragédia
O CORPO FALA © September 15, 2011 by profelipe
Todos possuem sentimentos confusos. O que caracteriza um desvio é o excesso. Isso pode acontecer de maneira consciente ou não. De qualquer forma, o resultado aparece, cedo ou tarde, numa espécie de desequilíbrio no corpo do indivíduo. Ou seja, por mais que a pessoa não queira admitir um erro, o seu corpo “fala”…
No momento em que o mal-estar é revelado, é comum o indivíduo procurar um médico e realizar diversos exames. Normalmente, tais exames mostram que a sua saúde estaria perfeita. Entretanto, o mal-estar permanece.
Aquilo que é gravado, de maneira consciente ou não, na memória, pode afetar o corpo, mas é invisível aos exames. A pessoa é também o conjunto de todas as suas experiências – boas ou más. As frustrações do passado geram insegurança quanto ao futuro e, portanto, afetam o presente.
Viver o “aqui e agora” é lidar, ao mesmo tempo, com o passado e o futuro. A tentativa de ser civilizado entra em conflito com a realização dos instintos. Por isso, mesmo no maior sofrimento, o indivíduo, nas suas atividades cotidianas, é capaz de aparentar calma, normalidade e equilíbrio.
As aparências enganam. Muitos querem ser enganados. Desejam viver na fantasia. No entanto, como foi dito, o problema é que a insatisfação é revelada no corpo. É possível, por algum tempo, esconder de si mesmo a dor de um desejo não realizado. Na verdade, porém, o que ocorre é que a pessoa adia algo que, em algum momento, ela terá que enfrentar.
As drogas e as bebidas alcoólicas são instrumentos importantes na produção da ilusão e do esquecimento. É comum ouvir: “preciso beber para esquecer”. O efeito na bebida passa e o incômodo permanece.
É criado um ciclo destrutivo: o fracasso do passado alimenta o excesso do presente, o que gera a ansiedade quanto ao futuro.
O que atrapalha algo que seria simples – realizar os desejos no “aqui e agora” – são os fantasmas do passado e do futuro. Os sentimentos não aparecem nos exames, mas resultam em dor para o indivíduo… Dor que, mesmo sendo invisível, pode ganhar “visibilidade material” no corpo da pessoa.
AMOR E PARANÓIA © September 15, 2011 by profelipe
O medo faz parte da condição humana. Numa relação amorosa, por exemplo, ele está presente em todo o processo, desde a abordagem – a paquera – até a convivência – o namoro, o casamento – e mesmo no final (se for o caso, com o divórcio).
Algo que é normal pode assumir características doentias. Atualmente, é comum ver em noticiários homens rejeitados que assassinam as namoradas ou as esposas. Fazem isso por que estão “convencidos” de que estariam corretos, de que estariam fazendo “justiça”. Alguns chegam a afirmar que “matam por amor”.
Seria isso possível? O que eles gostariam de provar? A quem querem convencer?
Em sua maioria, a demonstração final de violência esconde, de fato, um medo. Sim, quanto maior a agressividade, maior pode ser a fragilidade.
Por quê? Esses indivíduos são, antes de tudo, paranóicos. O que quer dizer isso? Para David Bell (Paranóia, p. 5-6):
“A mente humana vê-se diante da experiência da angústia a cada momento da vida.
(…) Pode-se lidar com a angústia que vem de fora do modo tradicional: lutando ou fugindo.
A angústia que vem de dentro, porém, constitui um problema diferente.
(…) o conteúdo mental ameaçador é transferido do mundo interior para o exterior. Esse recurso [é] chamado de ‘projeção’ para fora – pois o conteúdo interno da mente é‘projetado’ para fora, para o mundo externo.”
Portanto, citando um exemplo, David Bell (p. 7) resume:
“Em vez de sentir que uma idéia perturbadora se impunha à sua mente, [o indivíduo]acreditou que a idéia partia de uma figura externa (…) que tentava impô-la a ele.”
O problema é que o paranóico parte de uma fantasia para agredir o outro. No seu delírio, ele estaria certo. Fazer o outro sofrer, para ele, seria uma forma de realizar a justiça. Na sua fantasia, ele humilha, bate e até mata “pelo bem do outro”. O paranóico acha que é incompreendido pois o outro não reconhece que, por trás daquela agressividade, existiria uma intenção nobre, existiria o verdadeiro amor.
Assim, a questão não é só que, ao se distanciar da realidade, o paranóico cria um problema para ele. O fundamental é que, na sua fantasia, ele torna-se um perigo para o outro e, mesmo utilizando recursos como a humilhação e a violência, ele não apresenta sentimento de culpa, pois, no seu delírio, ele estaria sendo usado pelo “destino” (ou por algo superior) para trazer a justiça à sociedade.
COMO FUGIR DE SI MESMO ? © September 15, 2011 by profelipe
A depressão está associada (também) a uma predisposição genética. Ela é a causa de muitos suicídios.
No filme “Clube da Luta”, numa das cenas finais, ocorre uma espécie de suicídio “parcial”, ou seja, o que morre seria a parte do indivíduo que estaria errada.
A análise de David Bell (Paranóia, p. 68-69), apesar de ser feita em outro contexto, pode ajudar na compreensão deste caso:
“Isso faz lembrar pacientes que ao tentar tirar a própria vida estão tomados do delíriode que enfim se livrarão de uma parte sua que não conseguem suportar e, delirantes, acreditam que depois do suicídio ficarão limpos e sem culpa alguma.”
O problema está na causa deste delírio, ou seja, por que alguém guarda em si algo que não pode suportar?
Como fugir de si mesmo?
Muitos tentam esquecer as experiências negativas que tiveram no passado. No entanto, as lembranças insistem em aparecer, sobretudo nos pesadelos. Os traumas não são esquecidos. Ficam “escondidos”, como se estivessem esperando algum pretexto para se revelar e aterrorizar o indivíduo que acreditava ser saudável e normal.
Diante do “terror revelado”, muitas vezes, sobra a pessoa só a alternativa da loucura ou do delírio, afinal, o esforço de apagar o trauma da consciência foi em vão.
EROS © September 15, 2011 by profelipe
Para Freud, Eros era mais do que de sexo, estava relacionado ao desejo de vida.
Na visão de Nicole Abel-Hirsch (Eros, p. 8-9):
“Eros é a ideia de uma força que ‘liga’ os elementos da existência humana – fisicamente, pelo sexo; emocionalmente, pelo amor; e mentalmente, pela imaginação.
(…) Uma ideia que exploramos neste livro é a de que não pode existir a ligação (união sexual, emocional ou intelectual) sem alguma forma de amor.
É claro que existe penetração sem amor – a pedofilia o comprova -, mas não é a mesma coisa que uma relação sexual.”
Na visão de Abel-Hirsch, uma relação sexual pressupõe um respeito entre os envolvidos, deve existir uma espécie de ética do amor. “Sem isso, não há ‘dois’ que se possa ligar numa cópula.” (p. 9)
O que motiva o interessa sexual é a atração. Entretanto, só isso não basta para manter uma relação. É necessário que exista, além do contato físico, um envolvimento emocional e intelectual.
No filme “Henry & June”, um personagem diz para a esposa: “você se apaixona pelas mentes das pessoas” (“you fall in love with people’s minds”). Nesta perspectiva, a atração física pode ser importante num primeiro contato, mas a inteligência seria fundamental para manter uma relação amorosa.
REPRESSÃO SEXUAL © September 15, 2011 by profelipe
Seria possível imaginar o mundo atual sem carro, avião, computador, televisão, cirurgia plástica e pílula anticoncepcional?
E pensar que tudo isso veio a existir somente após o final do século XIX…
De qualquer maneira, o resultado destas invenções foi a melhoria na vida dos indivíduos. Houve uma mudança radical quanto ao conceito de trabalho:
“Freud afirmou que a civilização exigia a repressão das pulsões sexuais para que os seres humanos trabalhassem com eficiência. Marcuse argumentou que isso pode ter sido necessário enquanto os produtos básicos eram escassos, mas se tornou desnecessário quando a tecnologia moderna passou a satisfazer as nossas necessidades sem repressão. O trabalho desagradável poderia ser bastante reduzido, de modo que não precisávamos mais conter a sexualidade.” (Roger Kennedy, Libido, p. 75)
Isso, infelizmente, ainda não aconteceu. A repressão sexual está aí. As pessoas acreditam que precisam sofrer (muito) com horas diárias de trabalho para, depois, ter alguma forma de prazer, como se fosse uma recompensa. Trabalham em excesso mesmo sem precisar!!!
É incrível como que, com condições materiais favoráveis, os indivíduos ainda são incapazes de perceber que possuem mais tempo livre para viver a sexualidade ou outras formas de prazer. Os muros não existem mais, mas eles não conseguem ultrapassar as linhas (agora imaginárias) dos limites impostos pela ideologia.
TRANSFERÊNCIA DE CULPA © September 15, 2011 by profelipe
Freud afirmava que para entender a vida de um adulto seria necessário retornar a sua infância.
Como, neste sentido, uma criança de 5 ou 7 anos poderia compreender o significado do conceito de pecado na década de 1960?
Sim, falo da minha infância, das oportunidades que perdi por acreditar que estaria fazendo algo errado.
Lembro-me de estar brincando com uma menina da minha idade e havia um clima de “sexualidade”, mas me sentia culpado pois havia uma imagem da Santa Ceia de Leonardo da Vinci no quarto. Acreditava que estava pecando e, mais do que isso, que, por causa da imagem, estava sendo vigiado.
Em outras palavras, antes de descobrir o sexo, já tinham me convencido de que tratava-se de uma coisa errada.
Provavelmente, a religião não tenha mais uma influência significativa na formação das crianças. Entretanto, ainda existe o papel dos pais na formação delas. Aqui, após a década de 1990, apareceram novos problemas: pai e mãe trabalham e os filhos são deixados em creches e escolinhas; algumas mães acreditaram na “produção independente” (ou seja, que as crianças não precisariam da figura do pai) e, com o aumento no número de divórcios, muitas mães passaram a usar os filhos para brigar com os ex-maridos.
O problema é que tudo foi feito sem se preocupar com o ponto de vista das crianças. O resultado está aí, como ocorre com o excesso de consumo de bebidas alcoólicas e drogas entre os adolescentes ou com o aumento da violência e da prisão dos indivíduos entre 15 e 25 anos. O interessante é perceber que os educadores aparecem nos meios de comunicação de massa e apontam a culpa para os próprios jovens, sem avaliar adequadamente em que contexto social eles foram formados.
Trata-se de um jogo maquiavélico: os filhos são vistos como culpados pelos pais ausentes, que contam com o apoio de várias instituições da sociedade. Seria quase como uma aliança dos “adultos” contra as crianças e adolescentes…
Por quê? Culpa. No fundo, eles sabem que falharam na educação dos filhos.
Por isso, aliás, existe uma transferência de culpa. A vítima torna-se, como numa mágica, o rebelde sem causa, o drogado ingrato, o filho que não reconheceu tudo o que os pais e a sociedade fizeram por ele… P.o.r. f.a.v.o.r. !!
SADOMASOQUISMO: PRAZER E DOR © September 15, 2011 by profelipe
É interessante perceber como um indivíduo que foge da psicoterapia, ou seja, não desejaconhecer nem revelar o seu verdadeiro “eu”, sente prazer em se expor em práticas sadomasoquistas.
Produzir dor é interpretado (por Marquês de Sade) como uma “arte”. Sexo - com ou sem dor – seria a realização da vontade da natureza:
“Voluptuaries of all ages, of every sex, it is to you only that I offer this work; nourish yourselves upon principles: they favor your passions, and these passions, whereof coldly insipide moralists put you in fear, are naught but the means Nature employs to bring man to the ends she describes to him.”
Essa é a introdução de “Philosphy in Bedroom”, escrita por Sade em 1795. O livro é dedicado aos “voluptuaries” de todas as idades, sem distinção de sexo. Os “moralists” são criticados por colocar medo nas pessoas quando elas desejam realizar as paixões que são proporcionadas pela natureza.
Em 2011, a paixão sexual ainda é censurada pelos moralistas. Nada mudou entre 1795 e2011?
Houve mudanças, claro. Entretanto, muitas pessoas ainda são formadas a partir dos princípios religiosos e moralistas. A principal diferença é que, atualmente, existe mais liberdade no sentido da realização dos desejos.
Os moralistas contam com o processo da “culpa” para inibir o prazer sexual. Esquecem que os envolvidos numa paixão amorosa podem utilizar a “culpa” como mecanismo para excitar ainda mais o ato “pecaminoso”.
Provavelmente, a “culpa” desempenha um papel fundamental nas práticas sadomasoquistas. O uso de vários acessórios – máscaras, chicotes, entre outros – pode confirmar esta premissa.
Confesso que ainda tenho dificuldade de compreender o sadomasoquismo (S/M). Numa entrevista em 1982, Michel Foucault (Dit et Ecrits, p. 1556-1557) tratou do tema:
“L’idée que le S/M est lié à une violence profonde, que sa pratique est un moyen de libérer cette violence, de donner libre cours à l’agression est une idée stupide. Nous avons trés bien que ce que ses gens font n’est pas agressif; qu’ils inventent de nouvelles possibilités de plaisir en utilisant certes parties bizarres de leurs corps – en érotisant ce corps.”
Assim, Michel Foucault não associava o S/M “com uma violência profunda”. Na sua opinião, as práticas sadomasoquistas estabeleciam “novas possibilidades de prazer”. Será?
Ainda acredito que Sade estava correto quando afirmava que sexo e paixão eramnaturais. O problema estaria na associação entre prazer e dor. Isso colocaria em risco a própria relação sexual e os instintos apresentados pela natureza. Talvez essa seja uma opinião conservadora, mas é assim que penso atualmente.
MACHO & FÊMEA /\ \/ : SÍMBOLOS E O ACESSO AO CONHECIMENTO © September 15, 2011 by profelipe
Existem informações que são transmitidas a cada geração pelo código genético.
Com símbolos, desenhos e letras, o homem conseguiu repassar, aos outros, aqueleconhecimento adquirido na prática.
Em outras palavras, o acesso a uma teoria (uma história) melhorava a prática cotidiana do indivíduo.
O escritor Dan Brown explicou, nos DVDs de “DaVinci Code”, que a idéia do livro veio do seu interesse pelas sociedades secretas (inclusive por seus símbolos) que foram criadas ao longo da história da humanidade. No próprio filme, aparece um debate interessante (no original, em inglês, se necessário, utilize o tradutor do Google):
“The pagans found transcendence through the joining of male to female. In paganism, women were worshiped as a route to heaven, but the modern Church has a monopoly on that… in salvation through Jesus Christ. And he who keeps the keys to heaven rules the world. Women, then, are a huge threat to the Church. The Catholic Inquisition soon publishes what may be the most blood-soaked book in human history. The Malles Maleficarum. The Witches’ Hammer. It instructed the clergy on how to locate, torture and kill all freethinking women. In three centuries of witch hunts, 50.000 women are captured, burned alive at the stake.”
Os símbolos dos pagãos para o macho /\ e para a fêmea \/ estariam associados as anatomias dos corpos, assim como os animais do zodíaco seriam inspirados pelas constelações. No documentário “Zeitgeist”, é defendida a hipótese de que a cruz seria um símbolo pagãoantes de aparecer como representação do cristianismo.
O que existe em comum nestas teorias? Primeiro, há a necessidade de identificar padrões que facilitam o cotidiano do homem – como, por exemplo, as estações do ano. Segundo, a transmissão do conhecimento seria necessária e para isso seriam utilizados recursos como ossímbolos, os desenhos e as letras. Terceiro, para resolver algo no presente, seria importante conhecer o passado, evitando, assim, cometer os mesmos erros dos outros. Finalmente, em quarto lugar, sobretudo nas teorias religiosas, existe a preocupação degarantir o que aconteceria no futuro. Por exemplo, seguindo normas no presente, a pessoa garantiria um lugar no céu (“heaven”) no futuro.
A questão não é saber qual teoria estaria certa. O importante é reconhecer que o acesso ao conhecimento melhora a vida do indivíduo. Com diz um personagem do filme “DaVinci Code”: “ninguém odeia ‘a’ história… as pessoas evitam saber sobre o próprio passado.” (“Nobody hates history. They hate their own histories.” )
HEDONISMO © September 15, 2011 by profelipe
Freud destaca que existiam, no indivíduo, tanto um desejo de vida como “um instinto demorte.” A crueldade parece fazer parte da condição humana. Ela é elogiada por Nietzschee Sade.
Além da violência, o homem deseja também o prazer. O problema, para a maioria, está narealização dos instintos. De fato, em alguns momentos, satisfazer os desejos de uns significaria negar os instintos dos outros. Assim, inventaram a idéia de que o prazer é errado e de que quanto mais uma pessoa sofre (no presente), mais ela seria beneficiada no futuro.
Isso está por trás da definição de “pagão” do “The American Heritage Dicitionary” (p. 892):
“1. A person who not a Christian, Moslen, or Jew; heathen. 2. One who has no religion. 3. A non-Christian. 4. A hedonist.”
Ou seja, seria considerado “pagão” aquele que não fosse “cristão, mulçumano ou judeu”; aquele “que não tem religião”; “um não-cristão” ou “um hedonista”. As religiões citadas ressaltam a importância do sofrimento e da dor para, posteriormente, ter acesso a paz. A definição do dicionário associa ainda o “pagão” ao “hedonista”. Mas o que seria hedonismo?Para Walter Brugger (Dicionário de Filosofia, p. 205):
“HEDONISMOé a doutrina a qual o prazer(satisfação do apetite sensitivo ou espiritual)determina o valor ético da ação. Ao mesmo tempo, pressupõe que o homem, via de regra, age somente por motivo de prazer.”
Em outras palavras, o “pagão” e o “hedonista” estariam do lado do prazer e as religiões citadas enfatizaram a dor. Simples? Claro que não. Trata-se da definição de um único dicionário, mas que mostra, indiretamente, concepções ideológicas que dominam a sociedade atual.
S & M: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E PEDOFILIA © September 15, 2011 by profelipe
Estela Welldon analisa a diferença entre o sadomasoquismo e a violência doméstica. Na sua opinião:
“(…) a mulher se identifica com o agressor (o seu parceiro) e volta a agressividade para o filho, que passa a ser o membro frágil da família e alvo ‘conveniente’ para a expressão de hostilidade, agressividade e até violência sexual. Esse desfecho é diferente do sadomasoquismo, em que existe um roteiro predeterminado que pressupõe a segurança da situação.” (Sadomasoquismo, 2005, p. 52 e 53)
Assim, a violência doméstica pode ser causada por pedófilos. Se no caso do sadomasoquismo existe “um roteiro predeterminado” combinado entre dois adultos, na violência sexual (doméstica) ocorre um processo diferente na medida em que isso é feito por adultos que abusam sexualmente de bebês e crianças que não podem se defender.
Para a violência sexual acontecer dentro do ambiente familiar, precisa contar com a conveniência da mãe ou de sua incapacidade de perceber o óbvio. Esses bebês e crianças terão dificuldades em tornar-se adultos saudáveis.
Os pedófilos são covardes e, com razão, não são aceitos aceitos pelos outros indivíduos. São condenados na sociedade e, quando são finalmente presos, são hostilizados em prisões e presídios. Vivem com medo de serem denunciados. Esperam a proteção de um suposto vínculo familiar.
Nem na Grécia Antiga, em que era admitida a relação sexual entre um adolescente e um homem, era permitido o abuso de crianças:
“Ésquines diz que se quis mostrar, ao proibi-la até mesmo com relação aos escravos, o quanto era grave a violência quando ela era dirigida às crianças de boa origem.” (Michel Foucault, O uso dos prazeres, p. 191)
É comum ver pedófilos em presídios afirmar que são pessoas doentes. O problema é que eles só falam isso depois de serem presos! Se fossem realmente sinceros, teriam procurado ajuda psicológica ao invés de atacar crianças indefesas.
Os pedófilos passam despercebidos na sociedade pois, além das ameaças às suas vítimas, são cordiais com os outros adultos. Por isso, aliás, a maioria diz, perplexa, que não imaginava que “aqueles indivíduos tão educados pudessem fazer coisas tão terríveis.” A expressão popular “a casa caiu” funciona na prisão dos pedófilos com a utilização da denúncia anônima.
De fato, fingir que não existe violência doméstica gera problemas para todos, os agressores, os omissos e as vítimas. Os agressores vivem sob o medo de serem denunciados. Os omissos sentem-se responsáveis e para não ver ou esquecer o que viram, apelam, por exemplo, para as bebidas alcoólicas ou para as drogas. As vítimas podem também tentar esquecer, mas, em algum momento, os traumas sofridos aparecem em forma de doenças como anorexia, bulimia ou depressão, que podem estar (ou não) associadas ao sadomasoquismo e ao suicídio.
O que eu escrevi em outros artigos vale neste contexto:
“(…) as frustrações, como destaca Freud, ‘perturbam a alimentação, as relações sexuais, o trabalho profissional e a vida social’ e geram ‘casos graves de neuroses’, que com o passar dos anos, podem aparecer como AVCs ou ataques do coração. Em suma, parece que as escolhas da maioria para lidar com os traumas – beber para esquecer ou fingir que a culpa do problema está no outro – só pioram um quadro complexo de abusos sofridos principalmente na infância.”
Algo que amenizaria o sofrimento dos envolvidos em violência doméstica, especialmente em casos de pedofilia, poderia ser o uso da denúncia. Se ela é feita, fica mais fácil para as autoridades punirem os culpados. Quando ela não é feita, resta esperar que a culpa e o medo da prisão angustiem suficientemente os culpados por ataques contra pessoas indefesas…
“PSICO PAIN” © September 15, 2011 by profelipe
Gosto de sexo, mas evito ver, por exemplo (em filmes), cenas sadomasoquistas. Para mim, sexo é prazer e não teria a ver com dor.
Estella Welldon diz que toda relação sexual apresenta alguma coisa de sadomasoquismo, sem chegar a ser um caso patológico. Um exemplo poderia ser o sucesso, no Brasil, da personagem Tiazinha, com sua máscara e chicote.
Entretanto, a prática sadomosoquista está associada aos traumas sofridos na infância. Os sadomosoquistas precisariam, portanto, de tratamento psicoterápico e isso é o que evitam:
“Os rituais e os comportamentos sadomosoquistas são uma solução bem precária para uma dor psíquica insuportável.” (Sadomasoquismo, 2005, p. 73)
O sadomasoquismo seria uma forma de “esquecer” um trauma de infância. Fugir do passado pode ser perigoso, podendo causar até a morte – que, algumas vezes, acontece entre os adeptos desta prática.
A morte pode acontecer de uma maneira indireta, ou seja, sem ser resultado de um ritual sadomosoquista – apesar de poder estar associada ao trauma de infância. Isso ocorre com o suicídio, cuja causa seria a dor sentida por um indivíduo. Apesar de existir uma predisposição genética, para Schopenhauer, a decisão final caberia ao indivíduo. (L’Arte de Essere Felici, p. 98) Neste contexto, não seria possível julgar, nem afirmar que uma pessoa poderia cometer tal ato ou não.
AMOR & VIOLÊNCIA: GRÉCIA ANTIGA E SOCIEDADE MODERNA © September 15, 2011 by profelipe
Na Grécia Antiga, era permitido e até considerado honroso o amor que existia entre um homem e um rapaz. Havia leis para “proteger as crianças:
. contra adultos que durante certo tempo, pelo menos, não terão o direito de entrar nas escolas,
. contra os escravos que ficam sujeitos à morte se procuram corrompê-las,
. contra pais ou tutores que são punidos se as prostituem.” (Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 192)
Entretanto, essas leis não “proibiam que um adolescente [fosse] aos olhos de todos o parceiro sexual de um homem.” (p. 192) Quando o jovem tornava-se adulto, não seria aceito que ele continuasse a ser objeto de prazer (numa posição passiva) de outro homem, pois ele deveria assumir funções políticas:
“Quando, no jogo das relações de prazer, desempenha-se o papel do dominado, não se poderia ocupar, de maneira válida, o lugar de dominante no jogo da atividade cívica e política.” (Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 192)
Em suma, seriam diferentes, na Grécia Antiga, os papéis que poderiam ser desempenhados no sexo e na vida política.
Na sociedade moderna, houve mudanças. O honroso seria o amor que existiria entre um homem e uma mulher, que passou a ser aceito como natural. Até recentemente, o Baile de Debutantes representava o símbolo que iniciaria uma mulher na vida adulta, a passagem de “menina” à “moça” aos 15 anos de idade.
Hoje em dia, esse tipo de ritual perdeu a sua importância. Prevalece uma lei que define a maioridade, normalmente, quando a pessoa faz 18 anos.
Classificar um indivíduo como criança ou adulto significa definir aquele que é “dependente”, que precisa de cuidados, e o outro, “independente” e, assim, responsável pelos seus atos.
O conflito social, portanto, seria aceito entre adultos. Por outro lado, na sociedade moderna, a pedofilia seria vista com indignação, na medida em que ela romperia uma regra que seria considerada básica pelos seres humanos.
A violência sofrida pela criança não é só sexual. Existe uma violência emocional, feita principalmente pelos pais, que gera traumas e problemas para a vida adulta.
Se é difícil identificar a violência sexual contra uma criança, a violência emocional acontece quase como uma “violência invisível” na medida em que não deixa marcas no corpo. Ela pode reforçar no indivíduo, posteriormente, o surgimento da depressão, que ainda hoje é considerada uma “doença invisível”.
Muitas vezes, na sociedade moderna, o indivíduo que passa pelos dois processos – a “violência invisível” e a “doença invisível” – é apresentado, pelos outros, como “anormal” ou “louco”. São reforçados o sofrimento e a solidão daquela pessoa. O pior é que os outros, considerados “normais”, não têm consciência da violência que comentem. Assim, fica muito fácil colocar na vítima a culpa por sua dor. Infelizmente, é o que quase sempre acontece. Infelizmente.
TORTURAS © September 15, 2011 by profelipe
Nossa presidente da República, Dilma Roussef, foi vítima de torturas durante a ditadura militar. Naquela época, vinham instrutores dos Estados Unidos ensinaram tais técnicas no sentido de obter informações (ler “Combate na Trevas” de Jacob Gorender)
Após 11 de setembro, George W. Bush criou um prisão, em Guatamago, especializada em torturas. Século XXI, democracia e tortura na maior potência mundial? Sim.
As torturas não foram inventadas no capitalismo. Na Idade Média, sob a ideologia, foram cometidas várias atrocidades contra os cidadãos que ousavam pensam diferente dos dogmas da igreja.
Nas guerras, a tortura é apresentada apenas como mais uma estratégia da luta.
No mundo moderno, foram criados clubes para que supostos torturadores e torturados exercitem as duas fantasias.
A base de todo esse processo está naquilo que Freud chamava de “instinto de autodestruição”, algo que existe em todo indivíduo.
A questão, como sempre, é saber como o homem lida com os seus instintos naturais. O superego tem um papel fundamental nesse processo, a sua censura inibe os institutos, mas, ao mesmo tempo, cria pessoas neuróticas e infelizes.
A CULPA © September 15, 2011 by profelipe
Ainda hoje alguns cristãos, em datas comemorativas, usam o autoflagelo como forma de redenção.
Em nome do cristianismo, na Inquisição, milhares de mulheres foram torturadas e queimadas vivas.
Quem participava das Cruzadas, uma guerra santa, buscava o perdão divino.
A dor e a culpa estão na base de uma religião, que é hegemônica no mundo ocidental.
Tratar de dor e culpa sob esse olhar parece natural na visão da maioria. Entretanto, relacionar dor e culpa ao sexo aparece como uma aberração, que é conceituada como sadomasoquismo.
A culpa é uma estratégia eficiente no processo de dominação, seja do ponto de vista religioso como sexual.
Dever algo para o outro é submeter-se aos seus caprichos e ordens - isso funciona numa relação com o grande público, as massas populares, ou numa relação particular, de um casal, por exemplo.
O essencial seria entender a origem da culpa. Em outras palavras, como autoflagelo, tortura e guerra podem estar associados a uma religião cuja base seria “amar o próximo como a si mesmo”? Do ponto de vista de um casal, como explicar a relação de amor e ódio no cotidiano de um casamento?
Freud dizia que o indivíduo nasce também com um instinto de autodestruição. A culpa seria uma necessidade biológica ou uma construção social, inventada por uns para dominar os outros? Poderia ser as duas coisas?
De qualquer maneira, o certo é que não passa de uma manipulação ideológica o uso de termos – autoflagelo, tortura e guerra – que podem ser apresentados como normais ou aberrações.
O DESEJO DE SER INFELIZ © September 15, 2011 by profelipe
Algumas pessoas gostam de sofrer. Não são necessariamente masoquistas sexuais. Gostam de ser rejeitadas. De uma maneira inconsciente, torcem para que o relacionamento com o outro fracasse. Precisam ser infelizes.
Para entender tal comportamento, é preciso analisar a infância do indivíduo. Aqui está a chave. Sofrer (ou presenciar) abusos significa formar adultos problemáticos. Quem passa por essas experiências tende a esquecê-las, mais do que isso: precisa efetivamente esquecê-las.
O esquecimento é uma forma de alienação que não resolve o problema. A dor é adiada. O incômodo não desaparece. Com o passar dos anos, ele aflora nas relações da pessoa com os pais, namorados ou mesmo filhos. O segredo da infância torna-se uma grave doença na vida adulta. Na medida em que esse segredo é compartilhado por outras pessoas, sobretudo membros de uma mesma família, a dificuldade de assumir o erro é ainda maior.
Assim, muitos não entendem por que se envolvem sempre com “as pessoas erradas” ou por que todos os seus relacionamentos tendem ao fracasso. Existe uma espécie de “desejo de ser infeliz”. A resposta, portanto, está no indivíduo e no seu passado. Basta saber se ele está disposto a entender isso e a tentar mudar esse processo.
O BEIJO DA MORTE © September 15, 2011 by profelipe
A depressão sempre foi considerada a principal causa de suicídios no mundo. A sua intensa dor já foi apelidada de “o beijo da morte”.
Fiz psicoterapia entre os anos de 1995 e 2009. Aparentemente, a minha primeira crise de depressão foi aos sete anos de idade. Tive três médicos (um deles suicidou). Tomei vários tipos de medicamentos. Uma vez, aos 16 anos, fiquei internado uma semana em uma clínica. A minha mãe tinha depressão.
Nasci com essa predisposição genética e, ao longo da vida, tive que aprender a conviver com ela. O meu cotidiano sempre foi como o dos outros. Quando mencionava que tinha depressão, poucos acreditavam de imediato. Eu sofria muito na hora da crise. Fora daquele momento, era possível realizar as minhas atividades normalmente.
Apesar do sofrimento, sempre procurei compreender a causa da dor. Para tanto, lia, conversava com a minha psicoterapeuta e com médicos. Esse comportamento era uma opção minha e não uma busca por cura.
Parece que nem todos estão dispostos a lidar com o passado. Em relação a um paciente que tinha terríveis experiências sadomasoquistas, Estela Welldon (Sadomasoquismo, 2005, p. 43) afirmou:
“Era mais fácil enfrentar a repetição daquelas experiências, sobre as quais tinha certo controle, do que enfrentar todo um processo de psicoterapia, durante o qual mergulharia numa situação desconhecida, de intenso sofrimento emocional.”
Aparentemente, o paciente de Estela Welldon preferia o horror da dor física no lugar do “sofrimento emocional.” De fato, não era uma escolha. Tratava-se de uma fuga do passado. Ainda sobre o mesmo paciente, Welldon (p. 43) afirmara:
“Não conseguia analisar a relação entre a dor insuportável do passado e sua condição presente. Em vez disso inventara uma crença em sua liberdade, já que era participante ‘ativo’ da dor infligida.”
Diante de casos como esse, é difícil aceitar, como desejaria Carlo Strenger, que as práticas sadomasoquistas não são “categorias patológicas que precisam ser diagnosticadas e curadas.” (p. 41)
Pessoalmente, sempre me sinto desconfortável – para dizer o mínimo – quando me deparo, num filme, por exemplo, com cenas sadomasoquistas. Não é algo que me atrai. Isso não quer dizer, porém, que eu esteja entre aqueles que acreditam que trata-se de um processo que tenha cura – aliás, lembra um pouco os discursos de várias lideranças religiosas que acham que podem “curar” o homossexualismo de alguns indivíduos.
Não sou favorável a alienação ou a fuga do passado. Contudo, acredito, como Freud afirmava, que existe, em cada indivíduo, um conflito entre “eros” - o amor pela vida – e o instinto de morte. A questão é saber lidar com todas essas contradições dentro de si mesmo e nas relações, nem sempre harmoniosas, que construímos com os outros.
BDSM © September 15, 2011 by profelipe
Após anos de casamento, divorciado, imaginava que eu estava velho e “fora do mercado”. Não demorou muito e percebi que não era bem assim. Mais jovem, ninguém fica. Agora o mesmo não pode ser dito sobre o mercado de bares, festas e casas noturnas. Percebi que era aceito, que não precisava ter 20 anos para se divertir, por exemplo, em lugares que só tocavam rock pesado.
Tive experiências que não conhecia antes do casamento. Sou historiador e já li, claro, livros sobre a história da sexualidade. Portanto, não me impressiono facilmente.
Na verdade o que vi, o que muitos chamam de uma “nova liberdade”, era a repetição de relações e crenças de outras sociedades. Orgias aconteciam, por exemplo, na época do Império Romano. Festas a fantasia, uma oportunidade para “ficar com desconhecidos”, eram comuns entre os nobres dos séculos XVII e XVIII. O elogio da relação amorosa entre dois homens era aceito na Grécia Antiga.
Houve, portanto, uma recriação de algo, utilizando novos nomes e novas formas de fazer amor. Uma dessas experiências seria o “dark room” – sala escura onde as pessoas fazem sexo clandestinamente -, tão comum em boites gays. “Glory Holes” – “uma parede, geralmente de madeira, cheia de furos através dos quais os homens passam o pênis em ereção, que pode ser manipulado às cegas pelas moças de passagem” (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p.102) – aparentemente não são comuns no Brasil. Por outro lado, a prática do “swing” – troca de casais – foi aceita no país.
Na Europa, surgiu o termo BDSM: Bondage / Discipline / Sado / Mascochisme ou Bondage / Domination / Sexual / Mistery. “Bondage” estaria relacionado a experiência de “amarrar e ser amarrado.” (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p. 99)
Enfim, experiências antes consideradas “exóticas” são cada vez mais comuns atualmente. Se antes, essas “liberdades” eram restritas aos indivíduos da elite, hoje é diferente, como lembra Michel Maffesoli:
“O que estamos testemunhando agora é a democratização da sacanagem, e a internet contribuiu para divulgar e estabelecer diálogos mais amplos e diretos.” (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p. 99)
Essa hipótese é correta. Percebo isso nos lugares que frequento. As chamadas redes sociais, o excesso de bebidas alcoólicas e a criação de novas drogas têm contribuído para a construção de novos parâmetros nas formas de relacionamentos.
Entretanto, algumas perguntas permanecem: por quê? O modelo de casamento monogâmico entre um homem e uma mulher estaria condenado a extinção? O que levaria uma pessoa aos rituais de sadismo e masoquismo numa relação sexual?
A partir de um ponto de vista freudiano, Estela Welldon acredita, por exemplo, que
“as sementes do futuro sadomasoquismo (…) são plantadas na primeira infância.” Para ela, seria “necessário destinar recursos melhores para auxiliar mães e bebês a escapar de parceiros abusivos, de modo que possam entender de algum modo a sua vida interior.” (Sadomasoquismo, 2005, p. 73-74)
Nos jornais brasileiros, são apresentados vários casos de abusos contra crianças e adolescentes realizados dentro do núcleo familiar. Crianças são amarradas, violentadas e torturadas por pais, tios, parentes e amigos. Nem sempre esses atos são estimulados pelo uso de drogas e álcool. Isso sem levar em consideração a quantidade de bebês abandonados pelas mães em lixos ou em ruas de pouco movimento. O que esperar do futuro dessas crianças?
É comum se criticar os jovens pelo comportamento sexual tido como liberal ou “anormal”. Mas as pessoas “esquecem” de questionar a origem desse comportamento e parcela de culpa dos pais na formação destes indivíduos. É mais fácil jogar pedra no outro do que olhar no espelho.
TRAUMAS NA INFÂNCIA E ADULTOS PROBLEMÁTICOS © September 15, 2011 by profelipe
Freud dedicou duas grandes obras para entender dois fenômenos essenciais ao ser humano: o esquecimento (Psicopatologia da Vida Cotidiana) e os sonhos (Interpretação dos sonhos).
Os dois mecanismos estão associados, ou seja, o que tenta se esquecer durante o dia, é “lembrado” no sono. O resultado imediato disto é a insônia.
O problema essencial é entender por que o indivíduo precisa esquecer de algo. Essa é a chave da questão. Ele quer esquecer um trauma, uma experiência negativa. Para tanto, inventa jogos racionais ou cria excessivas necessidades cotidianas para não pensar no problema. Basicamente, ele foge do que o incomoda.
Resolve? Não. A experiência negativa aparece nos sonhos. Ele não se livra do problema. Com o tempo, a situação se agrava e o que ele gostaria de esquecer passa a atrapalhar o seu cotidiano.
Não resolve a busca por respostas rápidas, normalmente relacionadas ao uso de remédios. É necessário compreender a causa do problema. Para isso, é preciso enfrentar o passado. Deixar de fugir e fazer uma autocrítica pode representar um bom começo. No entanto, não é um processo simples nem rápido. A psicoterapia pode ser fundamental para o sucesso deste exercício.
A causa normalmente encontra-se na infância. Acreditar normas sociais e em mitos só complica a situação:
“a visão estereotipada de que ‘as mulheres são vítimas e os homens algozes‘ tem sido aceita na sociedade. O abuso sexual realizado por mulheres é em grande parte ignorado e negado por associações feministas por não condizer com a ideia de que as mulheres são o sexo explorado.” (Estela Welldon, Sadomasoquismo, 2005, p. 69)
Já afirmei em outro artigo que as frustrações, como destaca Freud, “perturbam a alimentação, as relações sexuais, o trabalho profissional e a vida social“ e geram “casos graves de neurose,” que com o passar dos anos, podem aparecer como AVCs ou ataques do coração.
Em suma, parece que as escolhas da maioria para lidar com os traumas – beber para esquecer ou fingir que a culpa do problema está no outro – só pioram um quadro complexo de abusos sofridos principalmente na infância.
MÃES MÁS © September 15, 2011 by profelipe
Ultimamente, é comum ver mães jogando os seus bebês no lixo ou abandonando-os nas margens de córregos ou em ruas escuras e de pouco movimento.
São atos extremos que desmistificam a imagem de bondade associada à figura da mãe. Estela Welldon aponta para “as dificuldades em reconhecer que as mães podem abusar de seu poder.” (Sadomasoquismo, 2005, p. 25)
A violência doméstica não é feita só pelo homem. No entanto, admitir a violência realizada por uma mãe contra o filho parece complicado numa sociedade que procura rotular os papéis desempenhados por seus agentes: há o bom e existe o mal; o homem seria o opressor e a mulher seria a vítima; o favelado seria um marginal; e assim por diante. Há uma negação da complexidade do ser humano, que comporta em si mesmo qualidades e defeitos.
Negar tal complexidade tem uma função ideológica, de alienar as pessoas. Mas os fatos derrubam facilmente os rótulos. A maioria se mostra chocada com a realidade e busca a culpa no outro: “aquela mãe” (só ela) é um monstro ou a droga – especialmente o “crack” – é responsável por essa situação. Não existe autocrítica.
Bastaria, nesta perspectiva, transformar tais atos em casos de polícia. O problema é quando o que era algo isolado torna-se uma coisa comum, quando aquela violência que só aparecia na televisão, acontece na casa do seu vizinho. Procuram-se novos culpados: as leis protegem os bandidos! Mas aquele aposentado que violentou a neta não tem ficha na polícia e até então era tido como um velhinho dócil e de confiança… Sim, tudo fica mais confuso na medida em que existe uma recusa de ver a realidade. Insistir na alienação não resolve o problema e não disfarça o mal-estar sentido por cada pessoa que, no fundo, se sente co-responsável pelo que é feito em nome da sociedade.
VOYEUR © September 15, 2011 by profelipe
Atualmente, fico meio constrangido quando aparecem cenas de sexo na televisão. Acredito que, assim como nos filmes, a maioria não seria necessária. Tais cenas funcionam como a garota de biquini nas propagandas de cerveja, de carro ou qualquer outro produto.
Quando vejo este tipo de cena, penso logo na iluminação, na fotografia, na atuação dos atores, enfim, como teria sido possível produzir aquilo.
Existem cenas de sexo que são necessárias no contexto da história. Elas, no entanto, podem desviar a atenção do indivíduo. Não pretendo discutir a qualidade, mas quero citar dois filmes: “Império dos Sentidos” e “Calígula”. Um trata dos excessos de uma paixão, o outro mostra o poder de um tirano. Quando estes filmes passaram nos cinemas, as pessoas comentavam somente as cenas de sexo (que deveriam ser secundárias para compreender as histórias).
Não é uma afirmação nova, mas, no mundo ocidental, sexo nunca é só sexo, ou seja, é negócio, é chantagem, serve para vender produtos, entre outras coisas. É mais um discurso de controle, para citar Michel Foucault, do que algo real. Aquele velho instinto animal tornou-se uma produção na qual os atores representam um prazer – mesmo em cenas de sexo explícito – e o indivíduo tenta se colocar na posição de “voyeur”.
AMOR & MORTE © September 15, 2011 by profelipe
Até a década de 1970, no Brasil, um marido tentava usar o “amor” para justificar o assassinato da esposa. Em muitos casos, o que ocorria era excesso de ciúmes. Predominava ainda uma mentalidade machista.
Em 2011, em relação aos crimes passionais, 10 mulheres são assassinadas por dia no país, sendo 25% por motivos banais, ou seja, “os crimes não foram planejados.” (Bom Dia Brasil, 22/06/2011).
O que acontece? Primeiro, aquela mentalidade machista não acabou. Novos direitos e as delegacias das mulheres não conseguem deter a fúria de namorados e maridos rejeitados. Segundo, as mulheres, sobretudo as mais jovens, trabalham e participam mais da vida noturna. Isso possibilita o contato com outros indivíduos, o que pode levá-las a questionar os seus relacionamentos. É comum, por exemplo, a oposição de maridos quanto às iniciativas das esposas no que diz respeito à realização de um curso superior. Trata-se simplesmente do “medo da concorrência”.
O problema, basicamente, seria: como prever tal situação? Como saber que um pretendente é um assassino em potencial? É raro, mas os homens podem ser vítimas também (o filme “Atração Fatal” mostrou os riscos).
O indivíduo revela traços da sua personalidade através de sinais, como irritação exagerada e mesmo gritos simplesmente porque a outra pessoa não concordou com o seu ponto de pista em relação a um tema corriqueiro, como futebol, por exemplo. A questão é que, na paquera, todos tendem a esconder os defeitos e a não querer perceber os riscos que podem representar o futuro relacionamento. A consequência é que, depois de meses de namoro, pode chegar uma hora que o término da relação seja algo problemático.
Por que adiar a decisão? Por que não recusar antes o que será um desgaste no futuro? O motivo está em priorizar o presente, ou seja, muitos estão dispostos a quase tudo para não permanecerem sozinhos. O medo da solidão faz com que a pessoa acredite que poderá mudar o outro. Ela se recusa a ver os defeitos do outro. Se for alertada por um amigo, é mais fácil perder a amizade desde que ela continue o relacionamento.
Portanto, cada um é responsável pelo que escolhe. Existem vários fatores que devem ser considerados – sedução, mentira, manipulação, entre outros -, mas, no final, quem decide é a pessoa e será ela que viverá as consequências, algumas vezes desastrosas, desta escolha. Nesta perspectiva, a vítima pode não deixar de ser vítima, mas coube a ela alguma responsabilidade por ter entrado naquela situação.
Prof. Dr. S. F. Oliveira (2014) Tédio & Vida. http://tediovida.weebly.com/vida.html ©
Prefácio
Ainda existe bastante preconceito quanto aos temas: suicídio, BDSM depressão, ansiedade e doenças mentais de uma forma geral.
Incomoda. Parece algo distante ou que acontece só com o outro.
A verdade é que ninguém está imune a coisa alguma.
É melhor assumir os desejos e ver a realidade como ela é do que ficar na fantasia e na alienação.
Os textos desta coletânea tratam deste cenário. Foram publicados na Internet entre 2011 e 2014.
SUICÍDIOS E COBRANÇAS DA SOCIEDADE © March 10, 2014 by profelipe
Os músicos de heavy metal, antes, eram os acusados pelos suicídios dos adolescentes, como foi o caso da música “Suicide Solution” do Ozzy Osbourne. O vocalista chegou a ser processado por causa do suicídio de dois jovens nos Estados Unidos, mas foi considerado inocente.*
A internet, atualmente, aparece como a vilã neste processo. O Tumblr é acusado de abrir espaço para as pessoas que elogiam o suicídio e a automutilação.
Entretanto, o problema é mais complexo. Antes de acusar músicos e websites, os pais deveriam fazer uma autocrítica e verificar o que levou os filhos a optar por determinados estilos de música ou mesmo escolher navegar em determinados websites.
Esta polêmica foi retomada em janeiro de 2014, na Inglaterra, com o suicídio da adolescente Talluah Wilson, de 15 anos.
Para a mãe, a filha tinha uma vida dupla: uma “real”, como “dançarina com um futuro promissor no Royal Ballet School;”** e a outra personalidade seria “virtual”, criada pela garota no Tumblr, onde ela elogiava o excesso de álcool e cocaína e postava fotos de automutilação.
A mãe dá a entender que a culpa do suicídio seria deste tipo de espaço na internet que induziria os jovens ao suicídio.
No entanto, neste caso específico, a adolescente “havia sido diagnosticada com depressão clínica”, uma doença que pode levar ao suicídio. No Twitter, as mensagens (de Talluah Wilson) foram claras:
. “Eu nunca serei linda e magra.”
. “Eu não tenho plano para o meu futuro.”
. “Por que eu deveria ficar [por aqui] se ninguém fica comigo? Para mim, já deu. #suicide #goodbye.”***
Além das doenças genéticas (como a depressão), deve ser considerada a cobrança que a sociedade faz em relação às garotas: devem ser sempre belas e magras, devem ser as melhores profissionalmente, devem ser bem casadas e ter filhos, entre outras exigências.
Em um contexto tão estressante, muitas adolescentes acabam desistindo de viver porque percebem que nunca serão boas o suficiente e nunca agradarão totalmente aos próprios pais e todos aqueles que aparecem como pessoas importantes para elas. É triste. É muito mais complexo do que buscar colocar a culpa numa música ou num website.
(*)http://www.songfacts.com/detail.php?id=1303
(**)http://www.dailymail.co.uk/news/article-2544080/She-clutches-toxic-digital-world-Mother-dancer-15-threw-train-creating-online-cocaine-fantasy-warns-parents-beware-children-internet.html
(***) Frases do Twitter no original:
. “I will never be beautiful and skinny.”
. “I have absolutely no plan for my future.”
. “Why the f*** should I stay if no one around me stays for me? I’m done.” #suicide #goodbye.’
EXPERIÊNCIAS BIZARRAS © November 8, 2013 by profelipe
O amor permanece. A emoção não pode ser controlada pelo ser humano. O necessário é saber cuidar da relação amorosa. A base é o respeito.
Não é inteligente comprometer algo tão valioso com mesquinharias negativas, como ciúme, inveja, ansiedade, rancor, entre outras. As brigas não podem ser algo comum como um roteiro de novela mexicana.
Sexo e amor juntos podem ser o paraíso. Isso, porém, não quer dizer quebrar certos limites de uma respeitabilidade necessária ao relacionamento em nome “avançar mais uma etapa na paixão para não cair no perigoso marasmo”.
Experiências sexuais bizarras não fortalecem (necessariamente) a vida de um casal. Se elas forem testadas, deve existir igualdade, ou seja, a mulher não pode ser a única protagonista. Se o homem não tem segurança sobre a própria sexualidade (ele, por exemplo, acredita que com a violência física ele provaria a sua masculinidade), ele não deve tentar novas experiências pois poderá revelar que a sua relação com o seu corpo seria a de um menino de 12 anos (que tem medo de ser gay). Isso, claro, seria bastante constrangedor e decepcionante aos olhos de sua parceira.
Em resumo, qualquer máscara desaparece no momento que alguém deseja provar algo para o outro.
GOSTA DE SOFRER? © June 2, 2012 by profelipe
Algumas pessoas não assumem conscientemente, mas elas gostam de sofrer. Procuram, racionalmente, explicar, por exemplo, o fracasso do namoro ou o insucesso na vida profissional. Pior: elas tentam explicar isso para os outros, como se elas tivessem que dar uma satisfação à sociedade. Ingênuas.
O primeiro erro está em colocar no outro a responsabilidade pela felicidade ou pelo sucesso. O outro cuida dos interesses dele e nem é o culpado quando os seus projetos fracassam.
O segundo erro é não assumir o que de fato deseja – independente da moda ou do que o “mercado” espera.
Existem pessoas que investem bastante na aparência física: músculos, anabolizantes, silicones, botox, entre outras estratégias. Esquecem que o corpo, depois de uma certa idade, caminha para o declínio, sendo “destroçado” aos poucos tanto interna como externamente.
Em outras palavras, uma bela garota de 20 anos não terá a mesma aparência com 30, 40, 50 ou 60 anos. O seu corpo, como de qualquer um, voltará para a natureza em forma de cinzas ou restos para alimentar outros seres.
Acreditar que a beleza física dos 20 anos seria eterna é garantir o sofrimento e a decepção.
Outro erro comum é acreditar que seria possível controlar o outro, como o namorado, o funcionário ou o filho. É uma ilusão. Dizer que alguém te decepcionou significa ouvir da pessoa que ela não era obrigada a atender a sua expectativa, que ela não seria um simples objeto de sua fantasia.
Gostar de sofrer é uma opção. Os médicos certamente tratam o caso com uma patologia, mas, sinceramente, o que sabem esses médicos que formam e nunca mais pegam num livro?
Quem escolhe sofrer deveria, no mínimo, tentar compreender o por que de tal escolha.
Quer se cortar? Gosta de práticas sadomasoquistas? Namoro algum nunca deu certo? Os seus familiares te odeiam?
Nada disso é exclusivo de um indivíduo. A questão é entender o processo, não culpar só outro e sobretudo saber porque a pessoa escolhe estar ali, naquela situação.
† MORTE, RELIGIÃO, POLÍTICA & SEXO /\\/ © November 6, 2011 by profelipe
Existe uma associação entre o autoflagelo religioso com cilício, as torturas sob regimes autoritários ou totalitários, as práticas sexuais do sadomasoquismo (SM) e o instinto de morte que cada indivíduo possui.
A morte representa o desejo íntimo, como diria Freud, do “descanso eterno”. O que mais se aproxima da sua realização são os riscos das práticas sadomasoquistas. Poucas pessoas admitem serem adeptas do SM. De fato, não é para qualquer um. É necessário um trauma de infância e a coragem para repeti-lo na vida adulta. Existe um custo financeiro, na medida em que o processo não é barato, seja para participar dos clubes, seja para comprar os acessórios e as roupas. O SM como escolha de prática sexual, controlada, é para poucos.
A violência doméstica, descontrolada, punida pela lei, talvez seja uma forma marginalizada de lidar com os maus tratos na infância. Mais uma vez, a informação (o nível de educação) e a situação financeira parecem diferenciar aqueles que, por exemplo, participam de clubes de SM daqueles que simplesmente chegam em casa, revoltados com os baixos salários e com a vida miserável, e espancam as mulheres e os filhos.
Outra questão seria a religião. A base de sua dominação está na culpa. A pessoa “nasce em pecado”. Existe um dívida que nunca será paga, pois o indivíduo continuará pecando. O cilício não representa só a reprodução da dor que Jesus sofreu ao ser crucificado. Ele é uma forma de autopunição, de tentar “limpar” os pecados.
A culpa também está na base do comportamento sadomasoquista, pois ela está relacionada aos abusos da infância. Normalmente, as crianças sofrem essa violência dos pais e isso gera um sentimento confuso porque, teoricamente, elas deveriam amá-los mas, ao mesmo tempo, eles são os responsáveis pelas seus piores dores físicas e psicológicas que elas sofrem.
A tortura como prática foi sistematizada, provavelmente, pela igreja na Idade Média. Vários métodos e aparatos, daquela época, são utilizados pelos sadomasoquistas. A tortura tornou-se algo comum nos modernos regimes totalitários e autoritários. O exemplo mais importante seria o nazismo, com o uso de técnicas horríveis nos campos de concentração. Mais uma vez, na fantasia dos rituais do SM, aparecem, algumas vezes, por parte do sádicos, cópias dos uniformes nazistas.
No mundo ocidental, existe uma visão negativa da morte. Ela aparece associada sobretudo aos processos da dor, da culpa e da perda. Ela não é vista como algo natural. Ela é mostrada, muitas vezes, como uma punição – como se ela fosse uma alternativa e não algo que necessariamente ocorre com toda pessoa.
Essa visão da morte está relacionada de forma importante com concepções aparentemente tão distintas como as práticas religiosas,políticas e sexuais. Poderia ser diferente, claro. Mas naquilo que é a condição humana, essa opção acabou sendo hegemônica.
MORTE 7 DE AGOSTO DE 2011 © October 30, 2011 by profelipe
Já estou no limite faz tempo. Não acho grande mérito ter sobrevivido a tantas crises. Quando for necessário, farei o que precisa ser feito. É uma tendência e não uma profecia. Sempre achei que a natureza deveria cuidar dessa parte. Mas isso nem sempre acontece.
A dor insuportável leva ao suicídio. Neste quadro, é razoável - existem tantos exemplos: Freud, Lacan, Deleuze…
Não concordo com o suicídio por causa da falta de poder ou da falta de dinheiro. Tirar a vida por causa de conceitos - que mudam o tempo todo -não faz sentido.
O suicídio é apenas uma estratégia para lidar com a vida. A morte é uma certeza. O suicídio é uma opção. Não dá para afirmar que uma pessoa fará ou não tal escolha. É algo pessoal e depende do contexto que o indivíduo estiver vivendo. Todos correm o risco de escolher esse caminho, mesmo aqueles que nunca acreditaram que seriam capazes de cometer tal ato.
SUICIDE GIRLS & GOTHIC GIRLS © October 24, 2011 by profelipe
Nas relações sociais, o novo é fundamental para mim. Talvez por isso me interesso tanto pelo estilo das Suidade Girls. Na minha opinião, elas representam mais do que um bando de ninfetas tatuadas que posam nuas. Basta seguir qualquer uma delas no Tumblr para perceber que existe algo mais. Elas rompem com o tal padrão de beleza e, até agora, evitam impor uma única forma de se apresentar. Pode ser magra, gorda, usar óculos, ser hetero ou homossexual ou os dois… Adoro os cabelos coloridos: rosa, azul, verde… Enfim, elas demonstram que algo acontece e o que aparece nos seus corpos seria apenas a ponta de um “iceberg” de uma transformação comportamental e mental muito maior.
Já disse que associar as Suicide Girls à necrofilia é uma bobagem. Existe uma relação com o instinto da morte, mas Freud já dizia que isso acontece com todo indivíduo. Elas se aproximam das “Gothic Girls”, que também me atraem muito, com suas roupas negras, maquiagem pesada, um estilo de música específico e a fascinação pela morte e por cemitérios.
Acredito que essas garotas representam algo novo na atualidade. Seria bom ou ruim? Quem se importa? É gostar ou viver a sua vida diária, com o seu terno e gravata, no escritório, tomando um chopp depois do expediente com os colegas e, em ocasiões especiais, comprando uma jóia na H-Stern (ou na Vivara) para a sua namoradinha pequeno-burguesa (que certamente reclamará do modelo escolhido).
Sim, existem mudanças. Existem escolhas. Existe uma vida que não espera.
SUICIDE GIRLS © September 25, 2011 by profelipe
É mais fácil criticar aquilo que você não entende. Assim como não aceitaram as modelos quando elas usavam um visual “junkie”, agora tentam associar as garotas do “suicide girls” à necrofilia. Aparentemente, garotas tatuadas, com cabelos coloridos ou “acima do peso” são rotuladas como extravagantes por aqueles que acreditam que existe uma única forma de definir a beleza feminina. Patético.
GÓTICO ? © September 24, 2011 by profelipe
Quem me conhece sabe que quando vejo filmes em casa ou pego um livro para folhear, sempre começo pelo fim. Me interessa mais saber como aquela história foi construída. Outros analisam a obsessão pelo”fim” associada à morte. Uso só camisetas pretas. Minhas toalhas são pretas. Acho mais prático assim. Alguns dizem que essa preferência tem a ver com a minha depressão.
Quando era criança, gostava de passear pelos corredores do cemitério que havia perto da minha casa. Sempre gostei de chuva. Desligo aparelhos de CDs ou DVDs para ouvir o barulho da chuva. Para as pessoas, um dia bonito é um dia de sol. Eu gosto de ver a chuva, estando em casa, no carro ou a pé. Quando leio biografias, gosto de saber, primeiro, como foi a morte do indivíduo. Gosto dos grupos do chamado “gothic rock” (o termo é polêmico).
O que significa isso? Alguns diriam que trata-se de um “suicida”. Contudo, tenho 50 anos e e nenhuma tentativa. Penso muito na morte – me divirto com isso – e tenho depressão – aqui já não é brincadeira.
O fato é que, pelo menos até agora, no máximo que se poderia dizer a meu respeito é que eu teria tendências suicidas – o que acho uma teoria razoável. Outros poderiam achar que seria apenas outro “gótico” – ou “dark”, como era conhecido o tipo, aqui no Brasil, na década de 1980. Neste último caso, não daria para ser considerado efetivamente, na medida em que esse “rótulo” é pouco para dar conta da complexidade de um ser humano.
INCESTO © September 23, 2011 by profelipe
Na sociedade moderna, ainda se evita tratar de certos temas, o que reforça alguns mitos. Um deles é o incesto, cuja proibição aparece como algo “natural”.
“Com o tabu do incesto, a família marca a passagem da Natureza à Cultura. (…) Lévi-Strauss demole definitivamente as fantasias sobre a família enquanto fato substancialmente natural: a família biológica é uma abstração indeterminada, que não tem nenhuma relação com a realidade histórica.”(Massimo Canevacci, Dialética da Família, p. 177)
Nesta perspectiva, a proibição do incesto evitaria o isolamento da família e garantiria a troca das mulheres dentro de uma comunidade. Trata-se, portanto, de um fenômeno cultural que visa garantir a existência da sociedade.
A construção da civilização tem a ver com a invenção de conceitos que possibilitem a comunicação entre os indivíduos e ajude na integração e expansão de sua comunidade. Associar esses conceitos à natureza ou ao sobrenatural não passa de um estratégia ideológica que tem como objetivo garantir os interesses de uns contra os outros.
Em suma, a construção dos conceitos varia de acordo com a sociedade e seu contexto histórico. O problema é que as pessoas tendem a acreditar que esses conceitos são absolutos e, pior, acham que eles devem dirigir as suas vidas. Ocorre uma inversão. Os indivíduos, que originalmente deveriam ser os sujeitos, tornam-se objetos dos conceitos – muitos associados às religiões e às superstições.
No caso da proibição do incesto, mesmo levando em consideração quer seria uma necessidade social, o indivíduo tende a enxergar isso como uma lei natural e que nunca poderia ser violada. Estela Welldon cita um caso:
“Embora muito experiente, o médico ficara intrigado durante 15 anos porque não entendia a causa das frequentes e graves queixas psicossomáticas da moça que a levaram a exigir as mais diversas cirurgias. Felizmente o médico não cedeu a exigências, que enfim a levaram a revelar , depois de negar por uma década e meia, que tivera experiências incestuosas. Ela realmente reprimira a lembrança da violência sexual, mas o corpo jamais esquecera: tornou-se um lembrete permanente do estupro, que resultou em tratamento intenso e em punição severa toda vez que ela revivia o antigo trauma.” (Sadomasoquismo, p. 37)
Em outras palavras, o que a pessoa esforça para esquecer, o seu corpo insiste em lembrar, ele é a prova de que algo errado aconteceu, de que o trauma não foi superado. Em muitos casos, a pessoa volta a sua raiva contra o próprio corpo. Ela assume umas postura masoquista, impõe a si mesma um sofrimento e uma violência, que, em casos extremos, por terminar com a sua morte.
Em resumo, não é por acaso que os indivíduos temem tanto o debate do incesto. Ele está associado a estrutura familiar e aos desejos, nem sempre claro, de seus membros. Entretanto, a falta de esclarecimento só piora a situação, podendo levar a casos de estupro e de pedofilia.
SUICÍDIO © September 16, 2011 by profelipe
Os psiquiatras e psicoterapeutas, por motivos óbvios, não gostam de admitir diante de seus pacientes uma dado óbvio: “a depressão é a principal causa de suicídios.”
Nesta problemática, existem aqueles que “tentam o suicídio” como forma de chamar a atenção e os que, de fato, morrem.
No primeiro caso, o mínimo que se pode dizer é que existem formas mais interessantes de chamar a atenção, mesmo consideração, como diria Freud, o componente autodestrutivo encontrado em todos os indivíduos. O segundo caso é diferente. O suicídio “de fato” é visto, algumas vezes, como um ato de honra, como os ”kamikazes” japoneses na Segunda Guerra Mundial ou, mais recentemente, os ataques terroristas de grupos radicais islâmicos, como ocorreu com o World Trade Center em 2001.
A depressão clínica pode ser um elemento relevante neste processo, pois a doença “puxa” o indivíduo para a morte. Viver, assim, seria quase como ir contra a natureza da própria doença. Trata-se de uma doença genética. Pode ser tratada com modernos remédios – Prozac, Zoloft, entre outros – e com a ajuda de profissionais adequados, como os psiquiatras e os psicólogos.
Após as pesquisas de Michel Foucault, com seus livros “História da Loucura” e “Nascimento da Clínica”, e o avanço científico da indústria farmacêutica, a associação entre o suicídio e a depressão pôde ser amenizada. Contudo, não foi resolvida, na medida em que ela está relacionada à condição humana.
A MORTE IRRITA AS PESSOAS © September 16, 2011 by profelipe
Em uma crônica, João Ubaldo Ribeiro pensava sobre quanto anos ainda restariam para ele viver. Eu colocaria o problema de outra forma: o que você fez com o seu tempo antes de morrer? Se você teve um ataque do coração, provavelmente estava estressado, trabalhando muito ou preocupado demais com as coisas do cotidiano. E a sua vida? O seu prazer?
Tenho a sensação de que nascemos e ao longo da vida, as várias experiências que experimentamos seriam uma espécie de aprendizado para saber o que seria importante ou não, para quando chegarmos mais adiante, podermos usufruir o que nos é oferecido de melhor neste mundo. Depois, vem a morte, claro. No entanto, ela não apareceria como algo assustador e nem você ficaria tão apegado a esse mundo que morrer seria um mal negócio (apesar de você saber que não existe outra saída para tal momento).
A morte irrita as pessoas. É interessante. Não apenas o que seria uma recusa da “sua” morte, mas também no que se refere à morte do outro. Somos egoístas: como ele foi capaz de morrer e nos deixar? O que vale é sempre a “nossa” perspectiva. Quem sabe não seria a morte não seria o melhor para aquela pessoa. Não falo de suicídio, falo de morte natural. Acontece. Ficamos tristes, claro. Contudo, seria possível pensar na perspectiva do outro, por um só momento?
Muitas pessoas têm medo de morrer. Bobagem. Com medo ou sem, vão morrer do mesmo jeito. A morte aparece como algo no “futuro”, o indivíduo sente medo no “presente” em virtude do que ele fez no “passado”. A consciência pesada não resolve os erros do passado. A falta de consciência dos próprios atos não significa inocência. A alienação é uma opção.
Alguém disse que você deveria viver o seu momento como se ele fosse o último da sua vida. Está certo. O problema não é a morte. Ela é uma certeza. Não existe debate sobre isso. A questão é a vida. Sim, o que você faz dela, como, para usar outra expressão, você “habita” o seu tempo? Ser feliz. Ser solidário. Não são respostas, mas, para refletir, são duas temáticas interessantes.
DEPRESSÃO © September 16, 2011 by profelipe
A psicóloga da minha irmã afirmou que, quando tenho crise de depressão, uso a tela do computador como uma janela para o mundo, pois fico isolado e evito o contato com as pessoas. Não deveria admitir, mas trata-se de uma frase interessante. Aos que questionam sobre “a psicóloga da minha irmã”, esclareço que, claro, eu mesmo fiz psicoterapia por anos – exatamente entre 1995 e 2009. Atualmente, tomo somente antidepressivo. Estou com esta médica desde 2000. O médico da minha adolescência suicidou em 2007.
Estes são apenas fatos. Não me importo com a depressão. Ela é cíclica, genética, e sei que, qualquer hora, ela pode aparecer. Não acredito em cura. E como disse, nem me importo com isso. É simplesmente algo que tenho que conviver e, que eu me lembre, tenho crises desde os 7 anos de idade. Não suicidei e nem tem intenção de toma tal atitude. Não recrimino quem fez ou faz isso.
Contudo, não concordo com as chamadas “tentativas de suicídio para chamar a atenção”. Acredito que por mais grave que seja o problema, se o indivíduo quer chamar a atenção para si, devem existir outros meios, afinal, este tipo de “tentativa” pode acabar mal, pois a pessoa não morre e quando volta a si, os seus problemas aumentaram. Não critico ninguém porque cada um sabe “a dor de ser quem é”. Esta é somente a minha opinião e não uma certeza ou uma lei que poderia servir para todos.
Quem me conhece, sabe que eu adoro a vida. Quando falo que tenho depressão, muitos acham difícil de acreditar. Para alguns, sou um “bon vivant”. Não nego nem uma coisa – o amor pela vida – e nem a outra – a depressão é a principal causa de suicídio no mundo e é uma doença que eu tenho. Eu sei que as pessoas evitam estes temas: depressão, suicídio e morte. Não faço disto um drama, mas, por motivos óbvios, adoro ler e conversar sobre a morte. Gosto de obras associadas ao tema, como o filme o “Sétimo Selo” de Ingmar Bergman. Na música, gosto de “In My Time of Dying” do Led Zeppelin e “Death is Not the End” do Nick Cave. Nas artes plásticas, me impressionou muito o quadro “Guernica” de Pablo Picasso.
Em suma, a ideia da morte me fascina. Não falo do que acontece depois da morte, mas da ideia de que todos, um dia, deixaram de existir nesta vida. As várias teorias religiosas sobre o pós-morte não me interessam. São apenas teorias associadas ao conhecimento teológico, cujo critério mais importante é a fé. Acredito que isso diz tudo. Cada pessoa tem o direito de ter fé no que quiser e pronto. No meu caso, procuro me concentrar mais no que acontece durante a vida. O fato da morte ser uma certeza somente confirma a minha opção.
RADICALISMO © September 15, 2011 by profelipe
Sou contra radicalismo. Passei da fase. Talvez por isso veja algo similar entre o autoflagelo religioso com cilício [por exemplo] com as técnicas utilizadas nas relações sadomasoquistas. Além da dor, o que existe em comum em tais práticas é uma coisa chamada ‘culpa’.
VIDA, MORTE & ESCOLHAS © September 15, 2011 by profelipe
Em relação ao suicídio, Freud afirmou (em “Luto e Melancolia”):
“(…) jamais fomos capazes de explicar que forças interagem para levar a cabo esse propósito.”
O suicídio aparecia como um enigma, como algo sem explicação, quase como algo que o indivíduo não deveria fazer. Na prática, porém, a história foi outra. O próprio Freud optou por um “suicídio assistido”, assim como foi o caso de Lacan:
“Tal como Max Schur à cabeceira de Freud, o médico tomou a decisão de administrar a dose de morfina necessária a uma morte suave. No último instante, Lacan fuzilou-o com o olhar.” (Elisabeth Roudinesco, Jacques Lacan, p. 406)
No caso de Freud, o pedido pela dose de morfina partiu do próprio criador da psicanálise, que lembrou ao seu médico a promessa de que ele o ajudaria quando fosse chegado o momento.
Em suma, o suicídio não é algo que se explica. É um ato e como tal pode ser feito por qualquer pessoa. Na medida em que o indivíduoexiste só no presente, não faz sentido afirmar que um dia ele suicidará ou não.
Assim, não é possível julgar quem fez essa escolha, na medida em que, um dia, quem julgou pode percorrer exatamente o mesmo caminho.
DOMINANTES © September 15, 2011 by profelipe
Com os animais, acreditamos que a realização do instinto é óbvia e natural. Na civilização, as relações tornaram-se complexas. Com a ética, a realização do desejo ficou mais complicada. Como resultado, veio a frustração e os outros sentimentos negativos que definiram as relações de uns com os outros, como o ódio, a inveja e o rancor.
O fundamental, no mundo civilizado, não era saber se o objeto de prazer seria do sexo feminino ou do sexo masculino e sim admitir que existia um objeto, de um lado, e um sujeito do outro. Essa relação em si continha um processo de dominação. No mundo ocidental, de acordo com Michel Foucault:
“parece claro que foi a propósito do rapaz que a problematização foi mais ativa na Grécia Clássica, empreendendo em torno de sua beleza frágil, de sua honra corporal, de sua sabedoria e da aprendizagem que ela requer, uma intenção preocupação moral.” (O Uso dos Prazeres, p. 189)
Isso mudaria depois, quando a relação entre o homem e o rapaz seria substituída pela relação entre o homem e a mulher:
“(…) a moça ou mulher casada, com sua conduta, sua virtude, sua beleza e sentimentos se tornarão temas de cuidado privilegiado; uma nova arte de cortejá-las, uma literatura de forma essencialmente romanesca, uma moral exigente e atenciosa à integridade do corpo e à solidez de seu engajamento matrimonial, tudo isso atrairá para elas as curiosidades e os desejos.” (p. 189)
Independente da forma de relação, o fato é que existe um jogo de sedução entre um sujeito e o seu objeto. As regras não são rígidas e nem as posições aparecem como absolutas, mas a partir do seu lugar – homem, rapaz ou mulher – existe a possibilidade de acesso a vários mecanismos – poder, dinheiro, beleza, entre outros – que permitirão a relação com o outro. A realização do desejo, portanto, dependerá de um jogo complexo, que, muitas vezes, não ficará claro quem será o dominante ou o dominado.
MECANISMOS DE DEFESA © September 15, 2011 by profelipe
Jung e John D. Biroc se distanciam de Freud quando apresentam argumentos contra o princípio da causalidade para a terapia. A mente humana seria muito complexa e as relações sociais num mundo civilizado só complicariam ainda mais esse processo.
Apesar de considerar razoáveis as críticas de Jung e Biroc, não acredito que elas sejam suficientes para descartar a causalidade na análise do desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
Mas… e daí?
As pessoas gostam de afirmar que o indivíduo só presta atenção em algo quando ele é atingido no bolso. Penso diferente. O interesse desse indivíduo só é despertado quando algo afeta o seu corpo.
Como isso acontece?
Tentar enganar a si mesmo é transferir um problema da mente para o corpo. Por exemplo, a falta de apetite de uma pessoa pode estar associada a ansiedade de um evento importante que ela planejou.
Freud afirma que os indivíduos utilizam alguns mecanismos de defesa para tentar fugir da verdade:
. “a repressão (banimento da consciência),
. a projeção (atribuição a outra pessoa de um aspecto indesejável de si),
. a racionalização (intervenção de explicações falsas para as próprias motivações),
. a clivagem (adoção de atitudes ou sentimentos contraditórios em compartimentos separados de percepção),
. defesas maníacas (modos de negar sentimentos de depressão) e muitas outras variações sutis desses temas.” (Phil Mollon, O Inconsciente, p. 16-17)
Acredito que a maioria use sobretudo os dois primeiros mecanismos: a repressão e a projeção. É comum a pessoa querer banir da consciência algo desagradável, ou seja, ela quer esquecer algo ruim. Para isso, ela pode, por exemplo, beber em excesso numa festa.
Transferir um defeito seu para o outro também não é raro. A pessoa consegue ver o erro no outro mas não consegue percebê-lo nela própria. É mais fácil observar a vida do vizinho do que olhar para dentro de sua casa.
Essas fugas funcionam durante algum tempo. Como no exemplo da bebida, uma hora o efeito passa e é necessário encarar a realidade. Ou não. A pessoa pode beber mais e assim por diante. Mas chegará uma hora que aquela fuga terá um fim. Ela precisaria de uma espécie de gatilho para “acordar para a vida”. Em outras palavras, precisaria que ocorresse algo realmente trágico para poder avaliar que estava se enganando durante todo o tempo e que, afinal, o problemanão estava no outro mas sim nela mesma.
DOR, PRAZER, GÓTICOS E S&M © September 15, 2011 by profelipe
Sempre gostei de “goth rock”. Vi The 69 Eyes ao vivo e adoro a música “Gothic Girl” . Acho fantástica a “Lieber Gott” de Umbra et Imago (que conheci num cd que veio numa revista gótica alemã). Essa banda usa rituais de S&M em seus shows.
Comentei em outro texto que não gosto de cenas S&M, especialmente aquelas muito radicais. Entretanto, depois que conheci algumas garotas adeptas ao estilo, passei a ler e a escrever sobre o tema. Nunca entrei num clube S&M e não sei se ficaria a vontade num ambiente assim.
S&M é uma problemática complexa e está relacionada aos abusos sofridos na infância. Trata-se de uma forma de lidar com os traumas, de transformar o que era dor em prazer. É um perversão, claro. Mas não acredito que o caminho seria julgar o S&M como certo ou errado.
Freud, em uma entrevista em 1930, admitiu que tanto quanto ao sexo ele dava importância
“ao ‘além’ do prazer – a morte, a negação da vida. Esse desejo explica porque alguns homens gostam da dor – ela representa um passo em direção à morte! O desejo de morte explica por que todos os homens procuram o descanso eterno…” (A Arte da Entrevista, p. 96)
Não tem como negar que o elogio da dor no S&M é, no fundo, um desejo de morte.
Nem todos os góticos são adeptos do S&M. O que existe em comum entre eles são temas como morte, dor, sofrimento, depressão e suicídio.
Gosto de pensar nestas questões e visto só camisetas pretas. Isso, porém, não é o suficiente para que eu participe de grupos góticos ou S&M. Na verdade, tratar destas problemáticas representa apenas um pequena parte dos meus interesses relacionados ao cotidiano da sociedade atual.
FILMES E OLHARES © September 15, 2011 by profelipe
Em uma das cenas do filme “9 Semanas e Meia de Amor”, Elizabeth – personagem interpretada por Kim Basinger -, que trabalha numa galeria de arte, se excita ao ver “slides” de pinturas, o que a leva a masturbação, criando uma cena muito sensual no filme.
Em “Invasão de Privacidade”, existe uma cena em que a personagem vivida por Sharon Stone masturba-se no banheiro. O mesmo acontece com Sherilyn Fenn em “Two Moon Junction”. Todas as atrizes são bonitas e as cenas possuem um forte apelo sexual.
No caso dos homens, é raro aparecer alguma cena de masturbação. Quando isso acontece, como no filme “Beleza Americana”, é para mostrar a figura de um fracassado que não consegue seduzir nem a própria esposa. [ Em filmes de sexo explícito é diferente, pois a ejaculação representaria o que acontece de "real" na cena, por isso, após a relação sexual ou o sexo oral, é comum, ocorrer a masturbação antes da ejaculação. ]
Assim como as cenas de masturbação das mulheres, é comum vê-las nos filmes em cenas amorosas com outras mulheres – o que não acontece com os homens. O que explicaria essa diferença?
As mulheres são educadas para serem desejadas. Com a internet, tornou-se comum ver muitas fotos tiradas pelas próprias garotas em frente ao espelho, de biquíni e em posições sensuais. Parece existir uma necessidade de ser bela e sexy para, assim, atrair e dominar.
O filme é sobretudo um produto visual. Os olhares de homens e mulheres são diferentes. São perspectivas diferentes, com o mesmo objetivo: a conquista. Neste sentido, o jogo da sedução admite estratégias específicas de cada lado, raramente discutidas ou assumidas, mas que são essenciais para despertar a atenção e o interesse do outro.
CIVILIZAÇÃO E SUICÍDIO © September 15, 2011 by profelipe
Mais do que o tema da morte, as pessoas evitam discutir a problemática do suicídio. Entretanto, não existe nada mais civilizado do que avaliar as possibilidades do suicídio. Se o homem fosse apenas natural, jamais discutiria algo assim. Por ser social, complexo, ele precisa lidar com o suicídio – o que, obviamente, não significaria a sua morte. Trata-se de uma reflexão sobre a sua condição humana.
No texto “Luto e Melancolia”, Freud afirma:
“De há muito, é verdade, sabemos que nenhum neurótico abriga pensamentos de suicídio que não consistam em impulsos assassinos contra os outros, que ele volta contra si mesmo.”
A questão não é explicar como o suicídio seria possível. O interessante é perceber como um desejo natural (que existe em qualquer animal) – matar o outro – num ser dito civilizado transforma-se em suicídio. A incapacidade de fazer mal ao próximo – algo tão defendido cinicamente pelos civilizados – pode colocar o indivíduo num beco sem saída, quando a sua morte aparece como a única alternativa. Para não matar o outro – que pode ser o causador do seu sofrimento -, ele mata a si próprio.
No mundo ocidental, todos são educados de acordo com os princípios cristãos e com as leis da civilização. No entanto, são teorias que, na prática, não podem ser levadas à sério. Os poucos que acreditam totalmente nestes princípios podem enfrentar graves dilemas quando têm que enfrentar as repressões dos representantes de instituições como a família, aescola e a igreja.
Como alguém pode desconfiar que aquele que deveria fazer o bem – um padre, por exemplo – pode ser o causador de um trauma? Como uma vítima de pedofilia pode encontrar uma saída para o seu sofrimento se ele é causado por aqueles, dentro de sua casa, que deveriam protegê-lo?
O problema não é só denunciar e perder o amor e a confiança do pai ou do padre (como no exemplo). A gravidade da situação é que tais atos chocam com os princípios que são básicos na formação de qualquer pessoa. Como resolver isso, sobretudo se a vítima for uma criança?
Há um conflito no que diz respeito a teoria e a prática na formação do “ser”. Se a culpa não pode ser associada ao outro – pai ou padre -, ela volta para a vítima, que, no final das contas, “mereceria a punição” e com o suicídio seria percebida, pelos outros, como civilizada.
EXCLUIR PARA EXISTIR © September 15, 2011 by profelipe
Em 1982, Michel Foucault apresentou um seminário com o título “A Tecnologia Política dos Indivíduos” (Dits et Ecrits, p. 1652). Entre as várias problemáticas analisadas, uma questão me chamou a atenção: “o que somos nós hoje?” Ele afirma que esta pergunta incomodou “Kant, Fichte, Hegel, Nietzsche, Max Weber, Husserl, Heidegger, a Escola de Frankfurt”… (p. 1653)
Antes de iniciar a sua análise propriamente dita, ele faz, com base em suas pesquisas, uma afirmação importante:
“Précisons briévement que, à travers l’etude de la foilie et de la psyquiatrie, di crime et du châtiment, j’ai tenté de montrer comment nous nous sommes indirectement constitués par l’exclusion de certains outres : criminels, fous, etc.“ (p. 1653)
No que diz respeito à pergunta – “o que somos nós hoje?” -, o “hoje” demonstra que a definição do homem depende da sua época histórica. O que eu sou, o que é certo ou errado, depende da sociedade em que vivo. Isso muda de sociedade para sociedade e de época para época. As definições e os valores são inventados pelas pessoas de acordo com suas necessidades.
Aqui aparece a afirmação de Foucault – “somos indiretamente constituídos pela exclusão de alguns outros“. Por quê ? Para existir, eu preciso negar a existência do outro. Para dizer que sou normal, preciso identificar alguém como anormal. Para valorizar a minha liberdade, preciso que outros estejam presos.
Preciso me sentir especial, exclusivo e escolhido. Para me sentir assim, devem existir os excluídos. Nesta perspectiva, a valorização da minha felicidade dependeria da infelicidade dos outros. Assim, seria possível compreender por que certas pessoas nãosuportam a felicidade do outro.
Qualquer indivíduo já teve a sensação de que o seu prazer incomodaria outras pessoas próximas e elas imediatamente fariam comentários de censura quanto à sua felicidade ou inventariam obrigações que não estavam planejadas para aquele momento.
Em outras palavras, parece que o objetivo dessas pessoas é transformar o seu cotidiano num inferno! E o pior é que elas dizem que fazem isso – censura, repressão, etc – porque se preocupam com você! Tentam transformar sentimentos negativos – inveja, ciúme, rancor – em algo nobre – como o altruísmo.
O que complica ainda mais o processo é que as pessoas que agem assim não percebemconscientemente o mal que estão fazendo aos outros. Acreditam que amar significa fazer o outro sofrer! Acham, equivocadamente, que o ciúme e a inveja são essenciais numa relação amorosa. Fazem tudo para destruir aquilo que, dizem, mais amam.
Trata-se, no mínimo, de uma estranha forma de amor. De fato, existe um confusão: o que essas pessoas sentem é ódio, mas não conseguem admitir tal sentimento, então acreditam no impossível: a finalidade é o amor e os meios para realizá-lo seriam a repressão, a inveja, o ciúme e o sofrimento.
S & M: PERSPECTIVAS DIFERENTES © September 15, 2011 by profelipe
As pessoas que são abusadas (emocionalmente e/ou sexualmente) na infância, na vida adulta, podem optar pelo sadismo ou pelo masoquismo.
O sádico é um vingador, acredita que a violência – que comete contra os outros – aliviaria a dor do trauma do passado. Na medida em que isso não acontece, ele, dificilmente, desistirá dos ataques aos outros.
O masoquista lida com o trauma de uma maneira diferente. Com o ritual da repetição da experiência (sofrida) na infância, ele transforma dor em prazer. A repetição controlada do trauma, na vida adulta, seria uma forma de tornar o fracasso em vitória. É uma fantasia, mas, na prática, proporciona um prazer real ao masoquista.
Os dois casos (o sádico e o masoquista), porém, demonstram uma dificuldade de lidar com o passado. Representam tentativas (desesperadas) de continuar vivendo mesmo após a tragédia
O CORPO FALA © September 15, 2011 by profelipe
Todos possuem sentimentos confusos. O que caracteriza um desvio é o excesso. Isso pode acontecer de maneira consciente ou não. De qualquer forma, o resultado aparece, cedo ou tarde, numa espécie de desequilíbrio no corpo do indivíduo. Ou seja, por mais que a pessoa não queira admitir um erro, o seu corpo “fala”…
No momento em que o mal-estar é revelado, é comum o indivíduo procurar um médico e realizar diversos exames. Normalmente, tais exames mostram que a sua saúde estaria perfeita. Entretanto, o mal-estar permanece.
Aquilo que é gravado, de maneira consciente ou não, na memória, pode afetar o corpo, mas é invisível aos exames. A pessoa é também o conjunto de todas as suas experiências – boas ou más. As frustrações do passado geram insegurança quanto ao futuro e, portanto, afetam o presente.
Viver o “aqui e agora” é lidar, ao mesmo tempo, com o passado e o futuro. A tentativa de ser civilizado entra em conflito com a realização dos instintos. Por isso, mesmo no maior sofrimento, o indivíduo, nas suas atividades cotidianas, é capaz de aparentar calma, normalidade e equilíbrio.
As aparências enganam. Muitos querem ser enganados. Desejam viver na fantasia. No entanto, como foi dito, o problema é que a insatisfação é revelada no corpo. É possível, por algum tempo, esconder de si mesmo a dor de um desejo não realizado. Na verdade, porém, o que ocorre é que a pessoa adia algo que, em algum momento, ela terá que enfrentar.
As drogas e as bebidas alcoólicas são instrumentos importantes na produção da ilusão e do esquecimento. É comum ouvir: “preciso beber para esquecer”. O efeito na bebida passa e o incômodo permanece.
É criado um ciclo destrutivo: o fracasso do passado alimenta o excesso do presente, o que gera a ansiedade quanto ao futuro.
O que atrapalha algo que seria simples – realizar os desejos no “aqui e agora” – são os fantasmas do passado e do futuro. Os sentimentos não aparecem nos exames, mas resultam em dor para o indivíduo… Dor que, mesmo sendo invisível, pode ganhar “visibilidade material” no corpo da pessoa.
AMOR E PARANÓIA © September 15, 2011 by profelipe
O medo faz parte da condição humana. Numa relação amorosa, por exemplo, ele está presente em todo o processo, desde a abordagem – a paquera – até a convivência – o namoro, o casamento – e mesmo no final (se for o caso, com o divórcio).
Algo que é normal pode assumir características doentias. Atualmente, é comum ver em noticiários homens rejeitados que assassinam as namoradas ou as esposas. Fazem isso por que estão “convencidos” de que estariam corretos, de que estariam fazendo “justiça”. Alguns chegam a afirmar que “matam por amor”.
Seria isso possível? O que eles gostariam de provar? A quem querem convencer?
Em sua maioria, a demonstração final de violência esconde, de fato, um medo. Sim, quanto maior a agressividade, maior pode ser a fragilidade.
Por quê? Esses indivíduos são, antes de tudo, paranóicos. O que quer dizer isso? Para David Bell (Paranóia, p. 5-6):
“A mente humana vê-se diante da experiência da angústia a cada momento da vida.
(…) Pode-se lidar com a angústia que vem de fora do modo tradicional: lutando ou fugindo.
A angústia que vem de dentro, porém, constitui um problema diferente.
(…) o conteúdo mental ameaçador é transferido do mundo interior para o exterior. Esse recurso [é] chamado de ‘projeção’ para fora – pois o conteúdo interno da mente é‘projetado’ para fora, para o mundo externo.”
Portanto, citando um exemplo, David Bell (p. 7) resume:
“Em vez de sentir que uma idéia perturbadora se impunha à sua mente, [o indivíduo]acreditou que a idéia partia de uma figura externa (…) que tentava impô-la a ele.”
O problema é que o paranóico parte de uma fantasia para agredir o outro. No seu delírio, ele estaria certo. Fazer o outro sofrer, para ele, seria uma forma de realizar a justiça. Na sua fantasia, ele humilha, bate e até mata “pelo bem do outro”. O paranóico acha que é incompreendido pois o outro não reconhece que, por trás daquela agressividade, existiria uma intenção nobre, existiria o verdadeiro amor.
Assim, a questão não é só que, ao se distanciar da realidade, o paranóico cria um problema para ele. O fundamental é que, na sua fantasia, ele torna-se um perigo para o outro e, mesmo utilizando recursos como a humilhação e a violência, ele não apresenta sentimento de culpa, pois, no seu delírio, ele estaria sendo usado pelo “destino” (ou por algo superior) para trazer a justiça à sociedade.
COMO FUGIR DE SI MESMO ? © September 15, 2011 by profelipe
A depressão está associada (também) a uma predisposição genética. Ela é a causa de muitos suicídios.
No filme “Clube da Luta”, numa das cenas finais, ocorre uma espécie de suicídio “parcial”, ou seja, o que morre seria a parte do indivíduo que estaria errada.
A análise de David Bell (Paranóia, p. 68-69), apesar de ser feita em outro contexto, pode ajudar na compreensão deste caso:
“Isso faz lembrar pacientes que ao tentar tirar a própria vida estão tomados do delíriode que enfim se livrarão de uma parte sua que não conseguem suportar e, delirantes, acreditam que depois do suicídio ficarão limpos e sem culpa alguma.”
O problema está na causa deste delírio, ou seja, por que alguém guarda em si algo que não pode suportar?
Como fugir de si mesmo?
Muitos tentam esquecer as experiências negativas que tiveram no passado. No entanto, as lembranças insistem em aparecer, sobretudo nos pesadelos. Os traumas não são esquecidos. Ficam “escondidos”, como se estivessem esperando algum pretexto para se revelar e aterrorizar o indivíduo que acreditava ser saudável e normal.
Diante do “terror revelado”, muitas vezes, sobra a pessoa só a alternativa da loucura ou do delírio, afinal, o esforço de apagar o trauma da consciência foi em vão.
EROS © September 15, 2011 by profelipe
Para Freud, Eros era mais do que de sexo, estava relacionado ao desejo de vida.
Na visão de Nicole Abel-Hirsch (Eros, p. 8-9):
“Eros é a ideia de uma força que ‘liga’ os elementos da existência humana – fisicamente, pelo sexo; emocionalmente, pelo amor; e mentalmente, pela imaginação.
(…) Uma ideia que exploramos neste livro é a de que não pode existir a ligação (união sexual, emocional ou intelectual) sem alguma forma de amor.
É claro que existe penetração sem amor – a pedofilia o comprova -, mas não é a mesma coisa que uma relação sexual.”
Na visão de Abel-Hirsch, uma relação sexual pressupõe um respeito entre os envolvidos, deve existir uma espécie de ética do amor. “Sem isso, não há ‘dois’ que se possa ligar numa cópula.” (p. 9)
O que motiva o interessa sexual é a atração. Entretanto, só isso não basta para manter uma relação. É necessário que exista, além do contato físico, um envolvimento emocional e intelectual.
No filme “Henry & June”, um personagem diz para a esposa: “você se apaixona pelas mentes das pessoas” (“you fall in love with people’s minds”). Nesta perspectiva, a atração física pode ser importante num primeiro contato, mas a inteligência seria fundamental para manter uma relação amorosa.
REPRESSÃO SEXUAL © September 15, 2011 by profelipe
Seria possível imaginar o mundo atual sem carro, avião, computador, televisão, cirurgia plástica e pílula anticoncepcional?
E pensar que tudo isso veio a existir somente após o final do século XIX…
De qualquer maneira, o resultado destas invenções foi a melhoria na vida dos indivíduos. Houve uma mudança radical quanto ao conceito de trabalho:
“Freud afirmou que a civilização exigia a repressão das pulsões sexuais para que os seres humanos trabalhassem com eficiência. Marcuse argumentou que isso pode ter sido necessário enquanto os produtos básicos eram escassos, mas se tornou desnecessário quando a tecnologia moderna passou a satisfazer as nossas necessidades sem repressão. O trabalho desagradável poderia ser bastante reduzido, de modo que não precisávamos mais conter a sexualidade.” (Roger Kennedy, Libido, p. 75)
Isso, infelizmente, ainda não aconteceu. A repressão sexual está aí. As pessoas acreditam que precisam sofrer (muito) com horas diárias de trabalho para, depois, ter alguma forma de prazer, como se fosse uma recompensa. Trabalham em excesso mesmo sem precisar!!!
É incrível como que, com condições materiais favoráveis, os indivíduos ainda são incapazes de perceber que possuem mais tempo livre para viver a sexualidade ou outras formas de prazer. Os muros não existem mais, mas eles não conseguem ultrapassar as linhas (agora imaginárias) dos limites impostos pela ideologia.
TRANSFERÊNCIA DE CULPA © September 15, 2011 by profelipe
Freud afirmava que para entender a vida de um adulto seria necessário retornar a sua infância.
Como, neste sentido, uma criança de 5 ou 7 anos poderia compreender o significado do conceito de pecado na década de 1960?
Sim, falo da minha infância, das oportunidades que perdi por acreditar que estaria fazendo algo errado.
Lembro-me de estar brincando com uma menina da minha idade e havia um clima de “sexualidade”, mas me sentia culpado pois havia uma imagem da Santa Ceia de Leonardo da Vinci no quarto. Acreditava que estava pecando e, mais do que isso, que, por causa da imagem, estava sendo vigiado.
Em outras palavras, antes de descobrir o sexo, já tinham me convencido de que tratava-se de uma coisa errada.
Provavelmente, a religião não tenha mais uma influência significativa na formação das crianças. Entretanto, ainda existe o papel dos pais na formação delas. Aqui, após a década de 1990, apareceram novos problemas: pai e mãe trabalham e os filhos são deixados em creches e escolinhas; algumas mães acreditaram na “produção independente” (ou seja, que as crianças não precisariam da figura do pai) e, com o aumento no número de divórcios, muitas mães passaram a usar os filhos para brigar com os ex-maridos.
O problema é que tudo foi feito sem se preocupar com o ponto de vista das crianças. O resultado está aí, como ocorre com o excesso de consumo de bebidas alcoólicas e drogas entre os adolescentes ou com o aumento da violência e da prisão dos indivíduos entre 15 e 25 anos. O interessante é perceber que os educadores aparecem nos meios de comunicação de massa e apontam a culpa para os próprios jovens, sem avaliar adequadamente em que contexto social eles foram formados.
Trata-se de um jogo maquiavélico: os filhos são vistos como culpados pelos pais ausentes, que contam com o apoio de várias instituições da sociedade. Seria quase como uma aliança dos “adultos” contra as crianças e adolescentes…
Por quê? Culpa. No fundo, eles sabem que falharam na educação dos filhos.
Por isso, aliás, existe uma transferência de culpa. A vítima torna-se, como numa mágica, o rebelde sem causa, o drogado ingrato, o filho que não reconheceu tudo o que os pais e a sociedade fizeram por ele… P.o.r. f.a.v.o.r. !!
SADOMASOQUISMO: PRAZER E DOR © September 15, 2011 by profelipe
É interessante perceber como um indivíduo que foge da psicoterapia, ou seja, não desejaconhecer nem revelar o seu verdadeiro “eu”, sente prazer em se expor em práticas sadomasoquistas.
Produzir dor é interpretado (por Marquês de Sade) como uma “arte”. Sexo - com ou sem dor – seria a realização da vontade da natureza:
“Voluptuaries of all ages, of every sex, it is to you only that I offer this work; nourish yourselves upon principles: they favor your passions, and these passions, whereof coldly insipide moralists put you in fear, are naught but the means Nature employs to bring man to the ends she describes to him.”
Essa é a introdução de “Philosphy in Bedroom”, escrita por Sade em 1795. O livro é dedicado aos “voluptuaries” de todas as idades, sem distinção de sexo. Os “moralists” são criticados por colocar medo nas pessoas quando elas desejam realizar as paixões que são proporcionadas pela natureza.
Em 2011, a paixão sexual ainda é censurada pelos moralistas. Nada mudou entre 1795 e2011?
Houve mudanças, claro. Entretanto, muitas pessoas ainda são formadas a partir dos princípios religiosos e moralistas. A principal diferença é que, atualmente, existe mais liberdade no sentido da realização dos desejos.
Os moralistas contam com o processo da “culpa” para inibir o prazer sexual. Esquecem que os envolvidos numa paixão amorosa podem utilizar a “culpa” como mecanismo para excitar ainda mais o ato “pecaminoso”.
Provavelmente, a “culpa” desempenha um papel fundamental nas práticas sadomasoquistas. O uso de vários acessórios – máscaras, chicotes, entre outros – pode confirmar esta premissa.
Confesso que ainda tenho dificuldade de compreender o sadomasoquismo (S/M). Numa entrevista em 1982, Michel Foucault (Dit et Ecrits, p. 1556-1557) tratou do tema:
“L’idée que le S/M est lié à une violence profonde, que sa pratique est un moyen de libérer cette violence, de donner libre cours à l’agression est une idée stupide. Nous avons trés bien que ce que ses gens font n’est pas agressif; qu’ils inventent de nouvelles possibilités de plaisir en utilisant certes parties bizarres de leurs corps – en érotisant ce corps.”
Assim, Michel Foucault não associava o S/M “com uma violência profunda”. Na sua opinião, as práticas sadomasoquistas estabeleciam “novas possibilidades de prazer”. Será?
Ainda acredito que Sade estava correto quando afirmava que sexo e paixão eramnaturais. O problema estaria na associação entre prazer e dor. Isso colocaria em risco a própria relação sexual e os instintos apresentados pela natureza. Talvez essa seja uma opinião conservadora, mas é assim que penso atualmente.
MACHO & FÊMEA /\ \/ : SÍMBOLOS E O ACESSO AO CONHECIMENTO © September 15, 2011 by profelipe
Existem informações que são transmitidas a cada geração pelo código genético.
Com símbolos, desenhos e letras, o homem conseguiu repassar, aos outros, aqueleconhecimento adquirido na prática.
Em outras palavras, o acesso a uma teoria (uma história) melhorava a prática cotidiana do indivíduo.
O escritor Dan Brown explicou, nos DVDs de “DaVinci Code”, que a idéia do livro veio do seu interesse pelas sociedades secretas (inclusive por seus símbolos) que foram criadas ao longo da história da humanidade. No próprio filme, aparece um debate interessante (no original, em inglês, se necessário, utilize o tradutor do Google):
“The pagans found transcendence through the joining of male to female. In paganism, women were worshiped as a route to heaven, but the modern Church has a monopoly on that… in salvation through Jesus Christ. And he who keeps the keys to heaven rules the world. Women, then, are a huge threat to the Church. The Catholic Inquisition soon publishes what may be the most blood-soaked book in human history. The Malles Maleficarum. The Witches’ Hammer. It instructed the clergy on how to locate, torture and kill all freethinking women. In three centuries of witch hunts, 50.000 women are captured, burned alive at the stake.”
Os símbolos dos pagãos para o macho /\ e para a fêmea \/ estariam associados as anatomias dos corpos, assim como os animais do zodíaco seriam inspirados pelas constelações. No documentário “Zeitgeist”, é defendida a hipótese de que a cruz seria um símbolo pagãoantes de aparecer como representação do cristianismo.
O que existe em comum nestas teorias? Primeiro, há a necessidade de identificar padrões que facilitam o cotidiano do homem – como, por exemplo, as estações do ano. Segundo, a transmissão do conhecimento seria necessária e para isso seriam utilizados recursos como ossímbolos, os desenhos e as letras. Terceiro, para resolver algo no presente, seria importante conhecer o passado, evitando, assim, cometer os mesmos erros dos outros. Finalmente, em quarto lugar, sobretudo nas teorias religiosas, existe a preocupação degarantir o que aconteceria no futuro. Por exemplo, seguindo normas no presente, a pessoa garantiria um lugar no céu (“heaven”) no futuro.
A questão não é saber qual teoria estaria certa. O importante é reconhecer que o acesso ao conhecimento melhora a vida do indivíduo. Com diz um personagem do filme “DaVinci Code”: “ninguém odeia ‘a’ história… as pessoas evitam saber sobre o próprio passado.” (“Nobody hates history. They hate their own histories.” )
HEDONISMO © September 15, 2011 by profelipe
Freud destaca que existiam, no indivíduo, tanto um desejo de vida como “um instinto demorte.” A crueldade parece fazer parte da condição humana. Ela é elogiada por Nietzschee Sade.
Além da violência, o homem deseja também o prazer. O problema, para a maioria, está narealização dos instintos. De fato, em alguns momentos, satisfazer os desejos de uns significaria negar os instintos dos outros. Assim, inventaram a idéia de que o prazer é errado e de que quanto mais uma pessoa sofre (no presente), mais ela seria beneficiada no futuro.
Isso está por trás da definição de “pagão” do “The American Heritage Dicitionary” (p. 892):
“1. A person who not a Christian, Moslen, or Jew; heathen. 2. One who has no religion. 3. A non-Christian. 4. A hedonist.”
Ou seja, seria considerado “pagão” aquele que não fosse “cristão, mulçumano ou judeu”; aquele “que não tem religião”; “um não-cristão” ou “um hedonista”. As religiões citadas ressaltam a importância do sofrimento e da dor para, posteriormente, ter acesso a paz. A definição do dicionário associa ainda o “pagão” ao “hedonista”. Mas o que seria hedonismo?Para Walter Brugger (Dicionário de Filosofia, p. 205):
“HEDONISMOé a doutrina a qual o prazer(satisfação do apetite sensitivo ou espiritual)determina o valor ético da ação. Ao mesmo tempo, pressupõe que o homem, via de regra, age somente por motivo de prazer.”
Em outras palavras, o “pagão” e o “hedonista” estariam do lado do prazer e as religiões citadas enfatizaram a dor. Simples? Claro que não. Trata-se da definição de um único dicionário, mas que mostra, indiretamente, concepções ideológicas que dominam a sociedade atual.
S & M: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E PEDOFILIA © September 15, 2011 by profelipe
Estela Welldon analisa a diferença entre o sadomasoquismo e a violência doméstica. Na sua opinião:
“(…) a mulher se identifica com o agressor (o seu parceiro) e volta a agressividade para o filho, que passa a ser o membro frágil da família e alvo ‘conveniente’ para a expressão de hostilidade, agressividade e até violência sexual. Esse desfecho é diferente do sadomasoquismo, em que existe um roteiro predeterminado que pressupõe a segurança da situação.” (Sadomasoquismo, 2005, p. 52 e 53)
Assim, a violência doméstica pode ser causada por pedófilos. Se no caso do sadomasoquismo existe “um roteiro predeterminado” combinado entre dois adultos, na violência sexual (doméstica) ocorre um processo diferente na medida em que isso é feito por adultos que abusam sexualmente de bebês e crianças que não podem se defender.
Para a violência sexual acontecer dentro do ambiente familiar, precisa contar com a conveniência da mãe ou de sua incapacidade de perceber o óbvio. Esses bebês e crianças terão dificuldades em tornar-se adultos saudáveis.
Os pedófilos são covardes e, com razão, não são aceitos aceitos pelos outros indivíduos. São condenados na sociedade e, quando são finalmente presos, são hostilizados em prisões e presídios. Vivem com medo de serem denunciados. Esperam a proteção de um suposto vínculo familiar.
Nem na Grécia Antiga, em que era admitida a relação sexual entre um adolescente e um homem, era permitido o abuso de crianças:
“Ésquines diz que se quis mostrar, ao proibi-la até mesmo com relação aos escravos, o quanto era grave a violência quando ela era dirigida às crianças de boa origem.” (Michel Foucault, O uso dos prazeres, p. 191)
É comum ver pedófilos em presídios afirmar que são pessoas doentes. O problema é que eles só falam isso depois de serem presos! Se fossem realmente sinceros, teriam procurado ajuda psicológica ao invés de atacar crianças indefesas.
Os pedófilos passam despercebidos na sociedade pois, além das ameaças às suas vítimas, são cordiais com os outros adultos. Por isso, aliás, a maioria diz, perplexa, que não imaginava que “aqueles indivíduos tão educados pudessem fazer coisas tão terríveis.” A expressão popular “a casa caiu” funciona na prisão dos pedófilos com a utilização da denúncia anônima.
De fato, fingir que não existe violência doméstica gera problemas para todos, os agressores, os omissos e as vítimas. Os agressores vivem sob o medo de serem denunciados. Os omissos sentem-se responsáveis e para não ver ou esquecer o que viram, apelam, por exemplo, para as bebidas alcoólicas ou para as drogas. As vítimas podem também tentar esquecer, mas, em algum momento, os traumas sofridos aparecem em forma de doenças como anorexia, bulimia ou depressão, que podem estar (ou não) associadas ao sadomasoquismo e ao suicídio.
O que eu escrevi em outros artigos vale neste contexto:
“(…) as frustrações, como destaca Freud, ‘perturbam a alimentação, as relações sexuais, o trabalho profissional e a vida social’ e geram ‘casos graves de neuroses’, que com o passar dos anos, podem aparecer como AVCs ou ataques do coração. Em suma, parece que as escolhas da maioria para lidar com os traumas – beber para esquecer ou fingir que a culpa do problema está no outro – só pioram um quadro complexo de abusos sofridos principalmente na infância.”
Algo que amenizaria o sofrimento dos envolvidos em violência doméstica, especialmente em casos de pedofilia, poderia ser o uso da denúncia. Se ela é feita, fica mais fácil para as autoridades punirem os culpados. Quando ela não é feita, resta esperar que a culpa e o medo da prisão angustiem suficientemente os culpados por ataques contra pessoas indefesas…
“PSICO PAIN” © September 15, 2011 by profelipe
Gosto de sexo, mas evito ver, por exemplo (em filmes), cenas sadomasoquistas. Para mim, sexo é prazer e não teria a ver com dor.
Estella Welldon diz que toda relação sexual apresenta alguma coisa de sadomasoquismo, sem chegar a ser um caso patológico. Um exemplo poderia ser o sucesso, no Brasil, da personagem Tiazinha, com sua máscara e chicote.
Entretanto, a prática sadomosoquista está associada aos traumas sofridos na infância. Os sadomosoquistas precisariam, portanto, de tratamento psicoterápico e isso é o que evitam:
“Os rituais e os comportamentos sadomosoquistas são uma solução bem precária para uma dor psíquica insuportável.” (Sadomasoquismo, 2005, p. 73)
O sadomasoquismo seria uma forma de “esquecer” um trauma de infância. Fugir do passado pode ser perigoso, podendo causar até a morte – que, algumas vezes, acontece entre os adeptos desta prática.
A morte pode acontecer de uma maneira indireta, ou seja, sem ser resultado de um ritual sadomosoquista – apesar de poder estar associada ao trauma de infância. Isso ocorre com o suicídio, cuja causa seria a dor sentida por um indivíduo. Apesar de existir uma predisposição genética, para Schopenhauer, a decisão final caberia ao indivíduo. (L’Arte de Essere Felici, p. 98) Neste contexto, não seria possível julgar, nem afirmar que uma pessoa poderia cometer tal ato ou não.
AMOR & VIOLÊNCIA: GRÉCIA ANTIGA E SOCIEDADE MODERNA © September 15, 2011 by profelipe
Na Grécia Antiga, era permitido e até considerado honroso o amor que existia entre um homem e um rapaz. Havia leis para “proteger as crianças:
. contra adultos que durante certo tempo, pelo menos, não terão o direito de entrar nas escolas,
. contra os escravos que ficam sujeitos à morte se procuram corrompê-las,
. contra pais ou tutores que são punidos se as prostituem.” (Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 192)
Entretanto, essas leis não “proibiam que um adolescente [fosse] aos olhos de todos o parceiro sexual de um homem.” (p. 192) Quando o jovem tornava-se adulto, não seria aceito que ele continuasse a ser objeto de prazer (numa posição passiva) de outro homem, pois ele deveria assumir funções políticas:
“Quando, no jogo das relações de prazer, desempenha-se o papel do dominado, não se poderia ocupar, de maneira válida, o lugar de dominante no jogo da atividade cívica e política.” (Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 192)
Em suma, seriam diferentes, na Grécia Antiga, os papéis que poderiam ser desempenhados no sexo e na vida política.
Na sociedade moderna, houve mudanças. O honroso seria o amor que existiria entre um homem e uma mulher, que passou a ser aceito como natural. Até recentemente, o Baile de Debutantes representava o símbolo que iniciaria uma mulher na vida adulta, a passagem de “menina” à “moça” aos 15 anos de idade.
Hoje em dia, esse tipo de ritual perdeu a sua importância. Prevalece uma lei que define a maioridade, normalmente, quando a pessoa faz 18 anos.
Classificar um indivíduo como criança ou adulto significa definir aquele que é “dependente”, que precisa de cuidados, e o outro, “independente” e, assim, responsável pelos seus atos.
O conflito social, portanto, seria aceito entre adultos. Por outro lado, na sociedade moderna, a pedofilia seria vista com indignação, na medida em que ela romperia uma regra que seria considerada básica pelos seres humanos.
A violência sofrida pela criança não é só sexual. Existe uma violência emocional, feita principalmente pelos pais, que gera traumas e problemas para a vida adulta.
Se é difícil identificar a violência sexual contra uma criança, a violência emocional acontece quase como uma “violência invisível” na medida em que não deixa marcas no corpo. Ela pode reforçar no indivíduo, posteriormente, o surgimento da depressão, que ainda hoje é considerada uma “doença invisível”.
Muitas vezes, na sociedade moderna, o indivíduo que passa pelos dois processos – a “violência invisível” e a “doença invisível” – é apresentado, pelos outros, como “anormal” ou “louco”. São reforçados o sofrimento e a solidão daquela pessoa. O pior é que os outros, considerados “normais”, não têm consciência da violência que comentem. Assim, fica muito fácil colocar na vítima a culpa por sua dor. Infelizmente, é o que quase sempre acontece. Infelizmente.
TORTURAS © September 15, 2011 by profelipe
Nossa presidente da República, Dilma Roussef, foi vítima de torturas durante a ditadura militar. Naquela época, vinham instrutores dos Estados Unidos ensinaram tais técnicas no sentido de obter informações (ler “Combate na Trevas” de Jacob Gorender)
Após 11 de setembro, George W. Bush criou um prisão, em Guatamago, especializada em torturas. Século XXI, democracia e tortura na maior potência mundial? Sim.
As torturas não foram inventadas no capitalismo. Na Idade Média, sob a ideologia, foram cometidas várias atrocidades contra os cidadãos que ousavam pensam diferente dos dogmas da igreja.
Nas guerras, a tortura é apresentada apenas como mais uma estratégia da luta.
No mundo moderno, foram criados clubes para que supostos torturadores e torturados exercitem as duas fantasias.
A base de todo esse processo está naquilo que Freud chamava de “instinto de autodestruição”, algo que existe em todo indivíduo.
A questão, como sempre, é saber como o homem lida com os seus instintos naturais. O superego tem um papel fundamental nesse processo, a sua censura inibe os institutos, mas, ao mesmo tempo, cria pessoas neuróticas e infelizes.
A CULPA © September 15, 2011 by profelipe
Ainda hoje alguns cristãos, em datas comemorativas, usam o autoflagelo como forma de redenção.
Em nome do cristianismo, na Inquisição, milhares de mulheres foram torturadas e queimadas vivas.
Quem participava das Cruzadas, uma guerra santa, buscava o perdão divino.
A dor e a culpa estão na base de uma religião, que é hegemônica no mundo ocidental.
Tratar de dor e culpa sob esse olhar parece natural na visão da maioria. Entretanto, relacionar dor e culpa ao sexo aparece como uma aberração, que é conceituada como sadomasoquismo.
A culpa é uma estratégia eficiente no processo de dominação, seja do ponto de vista religioso como sexual.
Dever algo para o outro é submeter-se aos seus caprichos e ordens - isso funciona numa relação com o grande público, as massas populares, ou numa relação particular, de um casal, por exemplo.
O essencial seria entender a origem da culpa. Em outras palavras, como autoflagelo, tortura e guerra podem estar associados a uma religião cuja base seria “amar o próximo como a si mesmo”? Do ponto de vista de um casal, como explicar a relação de amor e ódio no cotidiano de um casamento?
Freud dizia que o indivíduo nasce também com um instinto de autodestruição. A culpa seria uma necessidade biológica ou uma construção social, inventada por uns para dominar os outros? Poderia ser as duas coisas?
De qualquer maneira, o certo é que não passa de uma manipulação ideológica o uso de termos – autoflagelo, tortura e guerra – que podem ser apresentados como normais ou aberrações.
O DESEJO DE SER INFELIZ © September 15, 2011 by profelipe
Algumas pessoas gostam de sofrer. Não são necessariamente masoquistas sexuais. Gostam de ser rejeitadas. De uma maneira inconsciente, torcem para que o relacionamento com o outro fracasse. Precisam ser infelizes.
Para entender tal comportamento, é preciso analisar a infância do indivíduo. Aqui está a chave. Sofrer (ou presenciar) abusos significa formar adultos problemáticos. Quem passa por essas experiências tende a esquecê-las, mais do que isso: precisa efetivamente esquecê-las.
O esquecimento é uma forma de alienação que não resolve o problema. A dor é adiada. O incômodo não desaparece. Com o passar dos anos, ele aflora nas relações da pessoa com os pais, namorados ou mesmo filhos. O segredo da infância torna-se uma grave doença na vida adulta. Na medida em que esse segredo é compartilhado por outras pessoas, sobretudo membros de uma mesma família, a dificuldade de assumir o erro é ainda maior.
Assim, muitos não entendem por que se envolvem sempre com “as pessoas erradas” ou por que todos os seus relacionamentos tendem ao fracasso. Existe uma espécie de “desejo de ser infeliz”. A resposta, portanto, está no indivíduo e no seu passado. Basta saber se ele está disposto a entender isso e a tentar mudar esse processo.
O BEIJO DA MORTE © September 15, 2011 by profelipe
A depressão sempre foi considerada a principal causa de suicídios no mundo. A sua intensa dor já foi apelidada de “o beijo da morte”.
Fiz psicoterapia entre os anos de 1995 e 2009. Aparentemente, a minha primeira crise de depressão foi aos sete anos de idade. Tive três médicos (um deles suicidou). Tomei vários tipos de medicamentos. Uma vez, aos 16 anos, fiquei internado uma semana em uma clínica. A minha mãe tinha depressão.
Nasci com essa predisposição genética e, ao longo da vida, tive que aprender a conviver com ela. O meu cotidiano sempre foi como o dos outros. Quando mencionava que tinha depressão, poucos acreditavam de imediato. Eu sofria muito na hora da crise. Fora daquele momento, era possível realizar as minhas atividades normalmente.
Apesar do sofrimento, sempre procurei compreender a causa da dor. Para tanto, lia, conversava com a minha psicoterapeuta e com médicos. Esse comportamento era uma opção minha e não uma busca por cura.
Parece que nem todos estão dispostos a lidar com o passado. Em relação a um paciente que tinha terríveis experiências sadomasoquistas, Estela Welldon (Sadomasoquismo, 2005, p. 43) afirmou:
“Era mais fácil enfrentar a repetição daquelas experiências, sobre as quais tinha certo controle, do que enfrentar todo um processo de psicoterapia, durante o qual mergulharia numa situação desconhecida, de intenso sofrimento emocional.”
Aparentemente, o paciente de Estela Welldon preferia o horror da dor física no lugar do “sofrimento emocional.” De fato, não era uma escolha. Tratava-se de uma fuga do passado. Ainda sobre o mesmo paciente, Welldon (p. 43) afirmara:
“Não conseguia analisar a relação entre a dor insuportável do passado e sua condição presente. Em vez disso inventara uma crença em sua liberdade, já que era participante ‘ativo’ da dor infligida.”
Diante de casos como esse, é difícil aceitar, como desejaria Carlo Strenger, que as práticas sadomasoquistas não são “categorias patológicas que precisam ser diagnosticadas e curadas.” (p. 41)
Pessoalmente, sempre me sinto desconfortável – para dizer o mínimo – quando me deparo, num filme, por exemplo, com cenas sadomasoquistas. Não é algo que me atrai. Isso não quer dizer, porém, que eu esteja entre aqueles que acreditam que trata-se de um processo que tenha cura – aliás, lembra um pouco os discursos de várias lideranças religiosas que acham que podem “curar” o homossexualismo de alguns indivíduos.
Não sou favorável a alienação ou a fuga do passado. Contudo, acredito, como Freud afirmava, que existe, em cada indivíduo, um conflito entre “eros” - o amor pela vida – e o instinto de morte. A questão é saber lidar com todas essas contradições dentro de si mesmo e nas relações, nem sempre harmoniosas, que construímos com os outros.
BDSM © September 15, 2011 by profelipe
Após anos de casamento, divorciado, imaginava que eu estava velho e “fora do mercado”. Não demorou muito e percebi que não era bem assim. Mais jovem, ninguém fica. Agora o mesmo não pode ser dito sobre o mercado de bares, festas e casas noturnas. Percebi que era aceito, que não precisava ter 20 anos para se divertir, por exemplo, em lugares que só tocavam rock pesado.
Tive experiências que não conhecia antes do casamento. Sou historiador e já li, claro, livros sobre a história da sexualidade. Portanto, não me impressiono facilmente.
Na verdade o que vi, o que muitos chamam de uma “nova liberdade”, era a repetição de relações e crenças de outras sociedades. Orgias aconteciam, por exemplo, na época do Império Romano. Festas a fantasia, uma oportunidade para “ficar com desconhecidos”, eram comuns entre os nobres dos séculos XVII e XVIII. O elogio da relação amorosa entre dois homens era aceito na Grécia Antiga.
Houve, portanto, uma recriação de algo, utilizando novos nomes e novas formas de fazer amor. Uma dessas experiências seria o “dark room” – sala escura onde as pessoas fazem sexo clandestinamente -, tão comum em boites gays. “Glory Holes” – “uma parede, geralmente de madeira, cheia de furos através dos quais os homens passam o pênis em ereção, que pode ser manipulado às cegas pelas moças de passagem” (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p.102) – aparentemente não são comuns no Brasil. Por outro lado, a prática do “swing” – troca de casais – foi aceita no país.
Na Europa, surgiu o termo BDSM: Bondage / Discipline / Sado / Mascochisme ou Bondage / Domination / Sexual / Mistery. “Bondage” estaria relacionado a experiência de “amarrar e ser amarrado.” (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p. 99)
Enfim, experiências antes consideradas “exóticas” são cada vez mais comuns atualmente. Se antes, essas “liberdades” eram restritas aos indivíduos da elite, hoje é diferente, como lembra Michel Maffesoli:
“O que estamos testemunhando agora é a democratização da sacanagem, e a internet contribuiu para divulgar e estabelecer diálogos mais amplos e diretos.” (Ruth de Aquino, Playboy, Agosto 2002, p. 99)
Essa hipótese é correta. Percebo isso nos lugares que frequento. As chamadas redes sociais, o excesso de bebidas alcoólicas e a criação de novas drogas têm contribuído para a construção de novos parâmetros nas formas de relacionamentos.
Entretanto, algumas perguntas permanecem: por quê? O modelo de casamento monogâmico entre um homem e uma mulher estaria condenado a extinção? O que levaria uma pessoa aos rituais de sadismo e masoquismo numa relação sexual?
A partir de um ponto de vista freudiano, Estela Welldon acredita, por exemplo, que
“as sementes do futuro sadomasoquismo (…) são plantadas na primeira infância.” Para ela, seria “necessário destinar recursos melhores para auxiliar mães e bebês a escapar de parceiros abusivos, de modo que possam entender de algum modo a sua vida interior.” (Sadomasoquismo, 2005, p. 73-74)
Nos jornais brasileiros, são apresentados vários casos de abusos contra crianças e adolescentes realizados dentro do núcleo familiar. Crianças são amarradas, violentadas e torturadas por pais, tios, parentes e amigos. Nem sempre esses atos são estimulados pelo uso de drogas e álcool. Isso sem levar em consideração a quantidade de bebês abandonados pelas mães em lixos ou em ruas de pouco movimento. O que esperar do futuro dessas crianças?
É comum se criticar os jovens pelo comportamento sexual tido como liberal ou “anormal”. Mas as pessoas “esquecem” de questionar a origem desse comportamento e parcela de culpa dos pais na formação destes indivíduos. É mais fácil jogar pedra no outro do que olhar no espelho.
TRAUMAS NA INFÂNCIA E ADULTOS PROBLEMÁTICOS © September 15, 2011 by profelipe
Freud dedicou duas grandes obras para entender dois fenômenos essenciais ao ser humano: o esquecimento (Psicopatologia da Vida Cotidiana) e os sonhos (Interpretação dos sonhos).
Os dois mecanismos estão associados, ou seja, o que tenta se esquecer durante o dia, é “lembrado” no sono. O resultado imediato disto é a insônia.
O problema essencial é entender por que o indivíduo precisa esquecer de algo. Essa é a chave da questão. Ele quer esquecer um trauma, uma experiência negativa. Para tanto, inventa jogos racionais ou cria excessivas necessidades cotidianas para não pensar no problema. Basicamente, ele foge do que o incomoda.
Resolve? Não. A experiência negativa aparece nos sonhos. Ele não se livra do problema. Com o tempo, a situação se agrava e o que ele gostaria de esquecer passa a atrapalhar o seu cotidiano.
Não resolve a busca por respostas rápidas, normalmente relacionadas ao uso de remédios. É necessário compreender a causa do problema. Para isso, é preciso enfrentar o passado. Deixar de fugir e fazer uma autocrítica pode representar um bom começo. No entanto, não é um processo simples nem rápido. A psicoterapia pode ser fundamental para o sucesso deste exercício.
A causa normalmente encontra-se na infância. Acreditar normas sociais e em mitos só complica a situação:
“a visão estereotipada de que ‘as mulheres são vítimas e os homens algozes‘ tem sido aceita na sociedade. O abuso sexual realizado por mulheres é em grande parte ignorado e negado por associações feministas por não condizer com a ideia de que as mulheres são o sexo explorado.” (Estela Welldon, Sadomasoquismo, 2005, p. 69)
Já afirmei em outro artigo que as frustrações, como destaca Freud, “perturbam a alimentação, as relações sexuais, o trabalho profissional e a vida social“ e geram “casos graves de neurose,” que com o passar dos anos, podem aparecer como AVCs ou ataques do coração.
Em suma, parece que as escolhas da maioria para lidar com os traumas – beber para esquecer ou fingir que a culpa do problema está no outro – só pioram um quadro complexo de abusos sofridos principalmente na infância.
MÃES MÁS © September 15, 2011 by profelipe
Ultimamente, é comum ver mães jogando os seus bebês no lixo ou abandonando-os nas margens de córregos ou em ruas escuras e de pouco movimento.
São atos extremos que desmistificam a imagem de bondade associada à figura da mãe. Estela Welldon aponta para “as dificuldades em reconhecer que as mães podem abusar de seu poder.” (Sadomasoquismo, 2005, p. 25)
A violência doméstica não é feita só pelo homem. No entanto, admitir a violência realizada por uma mãe contra o filho parece complicado numa sociedade que procura rotular os papéis desempenhados por seus agentes: há o bom e existe o mal; o homem seria o opressor e a mulher seria a vítima; o favelado seria um marginal; e assim por diante. Há uma negação da complexidade do ser humano, que comporta em si mesmo qualidades e defeitos.
Negar tal complexidade tem uma função ideológica, de alienar as pessoas. Mas os fatos derrubam facilmente os rótulos. A maioria se mostra chocada com a realidade e busca a culpa no outro: “aquela mãe” (só ela) é um monstro ou a droga – especialmente o “crack” – é responsável por essa situação. Não existe autocrítica.
Bastaria, nesta perspectiva, transformar tais atos em casos de polícia. O problema é quando o que era algo isolado torna-se uma coisa comum, quando aquela violência que só aparecia na televisão, acontece na casa do seu vizinho. Procuram-se novos culpados: as leis protegem os bandidos! Mas aquele aposentado que violentou a neta não tem ficha na polícia e até então era tido como um velhinho dócil e de confiança… Sim, tudo fica mais confuso na medida em que existe uma recusa de ver a realidade. Insistir na alienação não resolve o problema e não disfarça o mal-estar sentido por cada pessoa que, no fundo, se sente co-responsável pelo que é feito em nome da sociedade.
VOYEUR © September 15, 2011 by profelipe
Atualmente, fico meio constrangido quando aparecem cenas de sexo na televisão. Acredito que, assim como nos filmes, a maioria não seria necessária. Tais cenas funcionam como a garota de biquini nas propagandas de cerveja, de carro ou qualquer outro produto.
Quando vejo este tipo de cena, penso logo na iluminação, na fotografia, na atuação dos atores, enfim, como teria sido possível produzir aquilo.
Existem cenas de sexo que são necessárias no contexto da história. Elas, no entanto, podem desviar a atenção do indivíduo. Não pretendo discutir a qualidade, mas quero citar dois filmes: “Império dos Sentidos” e “Calígula”. Um trata dos excessos de uma paixão, o outro mostra o poder de um tirano. Quando estes filmes passaram nos cinemas, as pessoas comentavam somente as cenas de sexo (que deveriam ser secundárias para compreender as histórias).
Não é uma afirmação nova, mas, no mundo ocidental, sexo nunca é só sexo, ou seja, é negócio, é chantagem, serve para vender produtos, entre outras coisas. É mais um discurso de controle, para citar Michel Foucault, do que algo real. Aquele velho instinto animal tornou-se uma produção na qual os atores representam um prazer – mesmo em cenas de sexo explícito – e o indivíduo tenta se colocar na posição de “voyeur”.
AMOR & MORTE © September 15, 2011 by profelipe
Até a década de 1970, no Brasil, um marido tentava usar o “amor” para justificar o assassinato da esposa. Em muitos casos, o que ocorria era excesso de ciúmes. Predominava ainda uma mentalidade machista.
Em 2011, em relação aos crimes passionais, 10 mulheres são assassinadas por dia no país, sendo 25% por motivos banais, ou seja, “os crimes não foram planejados.” (Bom Dia Brasil, 22/06/2011).
O que acontece? Primeiro, aquela mentalidade machista não acabou. Novos direitos e as delegacias das mulheres não conseguem deter a fúria de namorados e maridos rejeitados. Segundo, as mulheres, sobretudo as mais jovens, trabalham e participam mais da vida noturna. Isso possibilita o contato com outros indivíduos, o que pode levá-las a questionar os seus relacionamentos. É comum, por exemplo, a oposição de maridos quanto às iniciativas das esposas no que diz respeito à realização de um curso superior. Trata-se simplesmente do “medo da concorrência”.
O problema, basicamente, seria: como prever tal situação? Como saber que um pretendente é um assassino em potencial? É raro, mas os homens podem ser vítimas também (o filme “Atração Fatal” mostrou os riscos).
O indivíduo revela traços da sua personalidade através de sinais, como irritação exagerada e mesmo gritos simplesmente porque a outra pessoa não concordou com o seu ponto de pista em relação a um tema corriqueiro, como futebol, por exemplo. A questão é que, na paquera, todos tendem a esconder os defeitos e a não querer perceber os riscos que podem representar o futuro relacionamento. A consequência é que, depois de meses de namoro, pode chegar uma hora que o término da relação seja algo problemático.
Por que adiar a decisão? Por que não recusar antes o que será um desgaste no futuro? O motivo está em priorizar o presente, ou seja, muitos estão dispostos a quase tudo para não permanecerem sozinhos. O medo da solidão faz com que a pessoa acredite que poderá mudar o outro. Ela se recusa a ver os defeitos do outro. Se for alertada por um amigo, é mais fácil perder a amizade desde que ela continue o relacionamento.
Portanto, cada um é responsável pelo que escolhe. Existem vários fatores que devem ser considerados – sedução, mentira, manipulação, entre outros -, mas, no final, quem decide é a pessoa e será ela que viverá as consequências, algumas vezes desastrosas, desta escolha. Nesta perspectiva, a vítima pode não deixar de ser vítima, mas coube a ela alguma responsabilidade por ter entrado naquela situação.